Tive a oportunidade de conhecer uma pequena parcela da grande obra feita por Umberto Eco, durante a faculdade de jornalismo. Não sabia, naquele momento, que o magnifico filme "O Nome da Rosa" era baseado em um livro de sua autoria. Mas vamos falar deste título mais adiante.
A imprensa brasileira se fartou em usar uma de suas muitas frases, "as redes sociais deram voz a uma legião de imbecis", para dar consonância à noticia de sua morte. O catedrático sucumbiu a uma batalha travada por 2 anos contra um câncer no pâncreas. Faleceu na sexta feira passada, em sua casa em Milão e perto de seus livros. Sua obra, vai muito além que uma síntese veiculada nos telejornais tupiniquins. E, nesta postagem, além de registrar uma singela homenagem, tentarei apresentar como dicas, alguns dos poucos títulos deste mestre, cujo lamento sua morte e o breve conhecimento de sua vasta obra.
Durante sua trajetória, Eco recebeu 40 graus Honoris causa de universidades ao redor do mundo. Em 2000, foi agraciado com o Prêmio Príncipe das Astúrias de Comunicação e Humanidades (na Espanha). O filho de um contador, se estabeleceu com a família em um pequeno vilarejo na região montanhosa de Piemonte, noroeste da Itália, por conta da Segunda Guerra Mundial.
Jornalista, especializou-se em filosofia medieval, literatura e cultura de massa. Foi um dos pioneiros em abordar teorias para a linguagem televisiva, se destacando como um dos mais importantes teóricos da comunicação. Lecionou nas principais universidades do mundo, inclusive no Brasil. Em muitas delas, fundou cursos de Ciências da Comunicação e Ensino Superior de Humanidades.
Semiólogo, linguista, Eco se considerava filósofo de ofício e escritor nos finais de semana. Em uma cena do documentário Sulla Memoria (algo como "sobre memória", em português), de 2015, o escritor Umberto Eco, percorre os vários corredores de sua biblioteca. É de deixar qualquer um de queixo caído. A "anti-biblioteca", do escritor e pesquisador tem mais 30 mil títulos – e, para acomodar tudo isso, ele transformou o espaço, que originalmente era um hotel, em flats.
Agora você deve estar pensando: anti-biblioteca? Como assim?
São raros os quem entendem que uma biblioteca particular não serve para inflar o ego, mas sim, uma ferramenta ampla de pesquisa. Os livros já lidos são muito menos valiosos que os não lidos. Uma biblioteca que se preze, como dizia Eco, deveria conter o máximo do que você não conhece conforme seus recursos financeiros. Com eles, se vai acumulando mais conhecimento e mais livros conforme se envelhece. E na medida do crescente número de livros não lidos nas prateleiras, eles nos olharão ameaçadoramente. Na verdade, quanto se acumula conhecimento, maiores são as fileiras de livros não lidos.
Vou compartilhar aqui, o primeiro livro que li do autor, cujo a sensação de finalizar a leitura, me deixou extremamente assustado com o futuro da humanidade:
Título: Apocalípticos e Integrados
Editora: Perspectiva
Páginas: 386
Coleção: Debates, V.19
Tradutor: Perola de Carvalho
Idioma: Português
Edição: 7
Assunto: Literatura Internacional / Teoria e Critica Literária
Ano: 2015
ISBN: 8527301571
Encadernação: BROCHURA
Dimensões: 20,5cm x 11,5cm x 2cm
Peso: 0,36 kg
Este é um livro teórico e acadêmico da comunicação. Mas trata-se de um clássico para quem quer compreender melhor as relações entre mídia, indústria e cultura. Lançado em 1991, o livro aborda conceitos como diferença entre alta cultura (erudição) e cultura de massa. Detalha os produtos culturais que são referência, tais como o Super-Homem e Charlie Brown, além de discorrer sobre a natureza das linguagens da cultura de massa.
Umberto Eco trabalha de maneira clara, objetiva e direta, sempre correlacionando tudo o que escreve com a literatura canonizada e comum. Traz às origens a esfera da cultura. Compila uma série de ensaios a respeito da questão.
Em suma, Apocalípticos e Integrados são os termos que se definem por "genérica" e "polêmica". As duas palavras "fetiches", nomeadas pelo autor, servem para designar as correntes teóricas: os críticos da Escola Teórica de Frankfurt e os teóricos funcionalistas. Para Eco, "O apocalipse é uma obsessão do desinteresse, a integração é a realidade concreta dos que não dissentem".
Em uma crítica da crítica, relendo teorias comunicacionais já superadas, Eco vê a pertinência da contestação dos estudiosos alemães no aspecto de que os funcionalistas pretendem emergir a sociedade na alienação para a condução manipulada de suas funções. Cita que a cultura (popular), "saída de baixo" ou "de cima" é construída para consumidores indefesos, pois a sua pretensão é conduzir a sociedade para à massificação e consequentemente tirar proveito com o lucro dessa alienação.
A visão do autor, passado certo tempo de sua obra, acabou por ser superada por outras teorias comunicações. Mas o livro em si é extremamente reflexivo para com processos comunicacionais presentes até hoje na sociedade contemporânea.
Onde Comprar? http://www.livrariacultura.com.br/p/apocalipticos-e-integrados-72723
Umberto Eco também colaborou em diversos periódicos acadêmicos e jornais italianos, se notabilizando ainda como romancista. Desta safra, destaco dois deles:
Título: O Nome da Rosa
Autor: Umberto Eco
Editora: Record
Páginas: 546
Ano: 2009
Edição: 1
Tradutor: Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade
ISBN: 9788501081407
Peso: 0.20 Kg
Dimensões: 21cm x 14cm x 1cm
Idioma: Português
Acabamento: Brochura
Pra quem não viu o filme, vou deixar um clip/trailer para ambientar a história:
O título foi traduzidos para 47 idiomas e teve mais de trinta milhões de cópias vendidas. O livro é uma primor por sua hibridez: é ao mesmo tempo erudito e simples. Suas múltiplas facetas trazem estórias mescladas de falsas subtrama que parece pouco interessante de início, mas que ganha em intensidade e importância de maneira orgânica, sem que percebamos.
Apesar de ser uma história de investigação, há muito mais que isso. A presença terrível da biblioteca da abadia onde se desenvolve a trama, faz uma referência pessoal do autor para com o escritor e amigo argentino Jorge Luis Borges. Apesar dos retratados no livro, Eco traz a luz sua paixão pelos livros. Eles são a alma de "O Nome da Rosa".
Com um final extremamente simbólico, o livro é simplesmente um dos mais bem escritos em língua latina de todos os tempos, digno apenas de quem possui um repertório extremamente rico e amplo.
Onde Comprar? http://www.saraiva.com.br/o-nome-da-rosa-2657518.html
O complexo pensamento de Umberto Eco, surpreende por seu perfeccionismo cultural. O contemporâneo no que se refere a filosofia, cosmologia, teologia e história, com um toque de humor do escritor, que se mostra avesso a cronologia neste título:
Título: O Pêndulo de Foucault
Autor: Umberto Eco
Editora: Record
ISBN: 8501034665
Páginas: 563
Tradução: José Colaço Barreiros
Dimensões: 21cm x 14cm x 3cm
Peso: 0.59 Kg
Edição: 9
Ano: 2004
Idioma: Português
Acabamento: Brochura
Milão, início da década de 1980. Cansados da leitura e releitura de incontáveis manuscritos de ciências ocultas, os personagens acabam encontrando os indícios de um complô que teria surgido em 1312, e atravessado, encoberto, toda a história do planeta até o fim do século XX.
Em O Pêndulo de Foucault, Umberto Eco aborda questões como a emergência do irracionalismo high-tech, as síndromes do final do milênio, o mundo dos signos e os segredos da História.
Um trio de colaboradores – Belbo, Diotallevi e Casaubon – de uma editora italiana especializada em livros espiritualistas trabalha na criação de uma coleção mística, e acaba por desenvolver o que eles denominaram "O Plano", uma espécie de Conspiração Final que envolve todas as sociedades secretas do mundo e a reescrita de séculos de história mundial desde as primeiras cruzadas e a ascensão do poder dos Cavaleiros Templários.
O título traz referência a um dos maiores e mais importante experimentos científicos já realizados até a atualidade. Idealizado pelo francês Léon Foucault, o pêndulo montado no Phantéon francês em 26 de março de 1851, conseguiu demonstrar que a Terra gira em torno do seu próprio eixo e ao redor do sol, e não o contrário.
De todo, não será uma leitura tão fácil, mas que se demonstrará, mais proveitosa por conta das várias referências históricas empregadas. Em suma, um romance histórico que não apela a ser lido ato. A densa história requer o uso do bem mais estimável de todos, o pensamento.
Onde Comprar? http://www.saraiva.com.br/o-pendulo-de-foucault-335451.html
- Dica Especial:
Por conta do falecimento do autor, foi antecipado o lançamento de novas edições de sua obra derradeira, não menos especial:
Título: Número Zero
Autor: Umberto Eco
Tradutor: Ivone C. Benedetti
Editora: Record
ISBN: 9788501104670
Dimensões: 13,5 x 20,5
Páginas: 240
Ano: 2015
Edição: 4ª
Idioma: Português
Acabamento: Brochura
O livro é uma espécie de ensaio sobre os rumos do jornalismo, e o seu emprego para o mal. Foi ambientado na redação de um jornal imaginário, onde um grupo de redatores, reunidos ao acaso, prepara um jornal (O “Amanhã”), embora não se trate de um jornal informativo; O objetivo do periódico é chantagear, difamar, prestar serviços duvidosos a seu editor.
Um redator paranoico, vagando por uma Milão alucinada (ou vice versa), rememora cinquenta anos de história sobre um prisma diabólico, que gira em torno do cadáver putrefato de um pseudo-Mussolini.
Nas sombras, a Gladio, a loja maçônica P2, o assassinato do papa João Paulo I, o golpe de Estado de Junio Valerio Borghese, a CIA, os terroristas vermelhos manobrados pelos serviços secretos, vinte anos de atentados e cortinas de fumaça — um conjunto de fatos inexplicáveis que parecem inventados, até um documentário da BBC mostrar que são verídicos, ou que pelo menos estão sendo confessados por seus autores.
A sensação é a de percorrer sem saber se a epopeia é real ou algo que foi inventado ou simplesmente gravado ao vivo. Uma história que se passa em 1992, na qual se prefiguram tantos mistérios e tantas loucuras dos vinte anos seguintes. Sem dúvida, um ano particular para a Itália contemporânea, marcada pelos escândalos de corrupção e pela Operação Mãos limpas, que arrasou com boa parte da classe política da época.
Uma aventura trepidante e singular que se desenrola na Europa do fim da Segunda Guerra até os dias de hoje. Para a realidade política brasileira, os imbróglios são super atuais. Em uma reflexão ampla, é um romance sobre a morte lenta e gradual do “Amanhã”. É um retrato desiludido de Itália contemporânea e fracassada, como se ali tivesse falhado o projeto de construção de uma nação.
Onde Comprar ? http://www.livrariacultura.com.br/p/numero-zero-42894360
Espero que curtam as sugestões. Comentem;
Abraços!
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