Por Diego Oliveira
Já passava da 9 da manhã, e Rodolfo acabava de estacionar seu sedan na vaga costumeira, no Colégio Alma Mater. Tão atrasado como ele, estava a densa neblina daquela manhã, que teimava em não se dissipar. Talvez fosse o frio, ou qualquer coisa dessas que os meteorologistas recorrem a nos explicar nos telejornais.
E já cansado de estar naquela estranha escola particular da periferia da cidade, Rodolfo, seu diretor, trabalhou se encaminhava para seu gabinete. Ao se aproximar do derradeiro corredor, viu Margarida, sua secretária. Ela nunca lhe dava bom dia. Sempre vinha com uma urgência qualquer, ou uma notícia requentada nos jornais da manhã:
— Diretor, na sala há uma senhora que deseja lhe falar — disse Margarida.
— Já está na sala? — questionou Rodolfo, inconformado.
Era comum para ele receber os pais dos alunos naquela ante-sala de sua secretária. Mas quando se tratava de alguém mais destemperado, ou mais falante que Margarida, rapidamente a secretária soturna convidava a pessoa aguardar no escritório do diretor. Assim, se livrava da presença incomoda dequele pai, ou daquela mãe. Para Margarida, todos aqueles pais eram uns idiotas com honra ao mérito.
Rapidamente, Rodolfo abriu a porta: uma senhora de meia-idade, um tanto magra, olhos fundos nas órbitas e muito séria se levantava para o receber. Rodolfo a examinou a sala com os olhos, como se estivesse procurando alguma coisa que a jovem senhora poderia ter afanado ou tirado de seu devido lugar. Rodolfo nunca ligava para as pessoas. Na verdade, as desprezava. Estava cansado delas também.
— Sente-se — decretou o diretor, antes que a convidada do dia lhe desejasse um bom dia.
— O que posso ajudá-la, senhora? — Disse ele.
Ela hesitou, olhou em volta novamente. Ajeitou-se na ponta da cadeira. O que diria, eram um tanto desconfortável. Mas, os anos, já havia lhe dado a compreensão exata para lidar com aquele assunto.
Pouco a pouco, ela olhou em seus olhos e disparou:
— Então vamos sem rodeios. Sou uma mentalista. Estudo fenômenos psíquicos. Sou um especialista em ocultismo, e me dedico a casas energéticamente abertas, lugares que foram invadidos por espíritos malignos. Meu trabalho é caçá-los e lançá-los fora. Os obrigo a sair, e os incentivo a encontrar a paz.
Rodolfo inclinou-se contra a parte traseira de sua cadeira. Franziu o cenho, cruzou os braços, olhando para a mulher com um ar de incredulidade. Mas não a interrompeu. Apenas a observava.
Ela continuou:
— Crianças, adolescentes, irradiam uma grande quantidade de energia. Escolas, prédios antigos, salões grandes, podem reter parte dessa energia, e não é incomum que possam atrair os maus espíritos. Seres do outro mundo, que estão perturbados. E lhe digo: tenho certeza de que esta escola já está tomada. Então, tive o atrevimento de lhe procurar e advertir que essas entidades são perigosas. Outra coisa, é...
Abruptamente, Rodolfo irrompeu seu sarcasmo, com aquilo que julgava um total absurdo:
— É óbvio que está me oferecendo o seu serviço. E bem, eu vou ter que rejeitá-los. Me desculpe, mas não acredito nessas coisas. Aprecio sua preocupação, mas estamos bem.
— Doutor, seu riso de desdêm e sua incredulidade não lhe salvará desta ameaça. Vejo por seus ombros as energias que mexem com sua aura.
— Não é o caso, minha senhora. Por favor, tenha a bondade. — Levantou-se de sua cadeira, apontando a porta para a mulher.
Ela não mostrou nenhum sinal de ter se chateado. Olhou para ele com olhos compadecidos, não se surpreendeu sua recusa. Ela sabia bem que muitas pessoas que não acreditam.
— Estava certa de sua reação. Deixei com sua secretária o meu telefone. Caso venha a mudar de idéia... Eu tenho certeza que você... Enfim.
O diretor Rodolfo, estava impassível em seu último gesto. O braço esticado, apontando a porta.
— Ele vai — Pensou ela. Retirou a bolsa que estava sob a mesa, em seguida, retirou-se.
Depois daquele torpe espetáculo, a tarde passou lentamente. O sol se escondia pelas nuvens carregadas. Era um dia cinzento, quase sem vida. A tarde já se esvaia. O diretor já terminava a última volta e as crianças iam saindo. A escola ia se esvaziando.
Do barulho da algazarra juvenil, ficava apenas o tilintar do molho de chaves que acompanhava o zelador. A escola já encerrava seu expediente.
Ele ficou em silêncio. Apenas o som do vento pode ser ouvido, incomodando alguns pinheiros sem folhas do pequeno pátio.
Como todos os dias. Rodolfo estava trabalhando até tarde. Margarida já tinha despachado os últimos documentos da escola. Ao se despedir do diretor, lhe recomendou:
— Seu Rodolfo, hoje eu não ficarei até mais tarde. Está muito frio. O Senhor vai agora? — Questionou a secretária.
Sem levantar os olhos de seus papeis, o diretor respondeu:
— Não. Vou logo mais.
Margarida saiu, junto com os últimos lampejos de claridade do fim da tarde. Já ia longe, quando se lembrou de entregar o cartão da jovem senhora da visita vespertina ao diretor. Mas resolveu seguir. Aquilo não tinha importância. Na manhã seguinte, entregaria.
Com o adentrar da noite, o frio ficava mais, e mais intenso. Rodolfo, então, decidiu sair. Já era tarde. Ainda tinha que fazer esquentar o maldito carro, para não falhar o motor durante seu retorno.
Fechou seu escritório. Estava em uma extremidade do corredor superior da escola, longe da porta de saída para o estacionamento. Sentia o frio nas mãos e no rosto. Avançou um pouco mais pelo corredor, quando uma voz solitária, do interior de uma sala se fez ouvir.
Ele parou. O que seria aquilo? Apurou os ouvidos, virou-se. Nada. Quando já ia seguir, ele ouviu. Era quase um sussuro, um gemido:
— Diretor...
Rodolfo sentiu um frio ainda mais intenso lhe percorrer da nuca e descer a espinha. Estava com os sentidos alerta. E ouviu novamente:
— Diretor, aqui! — chamou. Parcecia uma voz de criança.
Rodolfo se aproximou da porta. Apoiou o ouvido à madeira.
— Eu estou trancada aqui na sala. Me ajude, tenho medo — disse a voz da criança.
Mais aliviado, Rodolfo disse a si mesmo:
— Como poderia ser tão descuidada, estas professoras... — Ria, enquanto puxava seu chaveiro do bolso.
Ao entrar no limiar da sala, não conseguiu ver nada. Esta escuro demais. Não viu a criança. Não tinha nada atrás da porta. Ele olhou para o interruptor de luz. Não funcionou.
— Você pode sair ... Ei, menina? Onde você está? Está me vendo? — buscava o diretor.
O quarto estava na penumbra. A fresta de luz, da porta, avançava apenas dois passos. Suas janelas davam vista para um pátio interior mal iluminado.
— Estou aqui na frente — dizia, temerário.
Rodolfo avançada cautelosamente entre as fileiras de carteiras. Passo a passo.
Uma pancada. Ele escutou como se um estampido surgisse dentro de seu ouvido. A batida vinha da mesa do professor. Sua atenção o revolveu, a chamar a atenção.
Ao se virar, viu atrás da mesa, sentado na cadeira do professor, uma silueta. Tinha um ser de semblante horrível; Acenando um cabelo bagunçado, seu corpo flácido e excepcionalmente obeso, além uma cabeça cheia de dobras e um grande barbixa que lhe caia no peito.
Aquele ser horrível, aparentemente, queria imitar uma professora, seu rosto era grotescamente anormal: barba, mistirada com maquiagem e um avental branco.
Um riso diabólico e aterrador ecoou no corredor. Houve um outro ser. Flutuando perto do teto e seu corpo era como o de uma criança.
Rodolfo sentiu-se fraco. As pernas estavam em falso. Ia desmaiar, mas se esforçou para correr.
Totalmente trôpego, consegui sair da sala e ganhar o corredor. Sentia o suor frio lhe escorrer pela testa. Completamente pálido, saiu da escola esqueceu de fechar a porta. Não pegou o caro. Estava realmente apavorada.
Atualmente, ninguém sabe o qual foi o fim de Rodolfo. São muitas versões, muitas histórias sobre o que poderia ter acontecido ao incrédulo diretor.
Ninguém mais se atreve a remontar passos durante a noite naquele lugar. Dizem que ronda naqueles obscuros corredores almas penada. Passos lentos, avental branco, barbas e cabelos longos. Carrega consigo uma criança chorosa. Andam sala por sala, uma por uma, todas as noites
A mentalista, que sabia o que se passava naquele prédio, nunca mais voltou. Porém, nada mais poderia fazer. Quem a repeliu, não podia mais tomar seus préstimos. Talvez, já não estivesse mais vivo.
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