domingo, 19 de junho de 2016

Dicas de Leitura #009 - 3 Livros-Reportagem do C@3#*+¢ !!


Nesta semana, e especialmente neste 19 de Junho, dia do meu aniversário, não consegui segurar: vou ter de puxar a sardinha para o meu lado e dos meus amigos jornalistas e escritores. A que nunca ouviu falar de livros de reportagens, eles contam histórias reais, apuradas e escritas com rigor jornalístico, mas que flertam plenamente com literatura. O Blog Canetada traz, nestas dicas, livros-reportagem que, com muito orgulho, estão presentes nas nossas estantes!

Não se trata de manuais e afins mais técnicos nessa nossa lista, mas vale lembrar: isso é para ajudar a
inspirar, como sempre nos referimos nas nossas redes sociais. Jornalismo não se aprende só nos livros.

Buscar e contar boas histórias passa necessariamente pela vivência diária, conhecendo o ser humano, e o diferente.

É muito bacana ter bons livros conosco, mas eles não substituem vivência, o tal do "ir pra rua", buscar a notícia. Que, por mais crucial que seja para um bom jornalismo é o que mais falta na profissão. Seja por falta de oportunidade ou de vontade.

Nosso primeiro título é um clássico, que deu ao consagrado jornalista Audálio Dantas, o Prêmio Jabuti de 2013 (livro do ano de não ficção):




Título: As Duas Guerras de Vlado Herzog
 
Subtítulo: da Perseguição Nazista na Europa À Morte Sob Tortura No Brasil

Autor: Audálio Dantas
Editora: Civilização Brasileira

ISBN: 9788520011515
Ano: 2012
Edição: 1
Número de páginas: 406
Acabamento: Brochura
Dimensões: 16 cm x 23 cm x 1 cm
Formato:  Médio
Assunto: Jornalismo / Memórias & Biografias

Peso: 0,570 Kg
Idioma: Português





O subtítulo da obra, "da Perseguição Nazista na Europa À Morte Sob Tortura No Brasil", já revela as
rememorações de duas épocas tristes da história: a perseguição aos judeus na Europa durante o nazismo e a ditadura militar no Brasil.

Tudo começa pela saga da família Herzog em sua fuga desesperada da Iugoslávia, para longe do horror da guerra. O menino Vlado vivia ali, sua primeira guerra e aprendeu dolorosas lições. O livro pincela como isso influenciou sua personalidade até a vida adulta. Avança também relatando a educação do rapaz, seu interesse gradual por livros e pelo jornalismo, até o ingresso na profissão, começando pelos jornais e revistas, chegando até diretor da TV Cultura, de concessão pública.

A segunda guerra travada pelo protagonista, já no Brasil, onde se refugiar em busca de paz, foi a
derradeira. Foi aqui que sua vida lhe foi duramente tirada, na escuridão de uma sala de tortura,
episódio que marcou para sempre a história dessa família e da luta política aqui no país.

É o que se expõe no caso de Herzog: a linha-dura tentava apertar o cerco enquanto que a imprensa e o
MDB (partido de “oposição” ao ARENA, composto pelos apoiadores) buscavam avançar no processo
democrático. Por conta do mal estar com o Governo de São Paulo, o General Geisel é obrigado a apoiar os sequestros e torturas. Vlado é chamado de comunista, de agente da KGB e, sob tortura, é feito assinar uma prova de sua própria culpa: morre pelos porões e o laudo diz que se tratou de suicídio. É aí que a reação de Audálio e dos demais jornalistas se dá: um ato ecumênico que envolve 8 mil pessoas, inclusive os estudantes, notas para a imprensa e o processo da família sobre a união.



Não trata-se de uma biografia de Herzog, mas a obra traça os momentos determinantes da vida de Vlado. O próprio autor, revelou em algumas entrevistas à época do lançamento do livro, sobre a responsabilidade de contar essa parte da história de um dos mártires da eterna busca brasileira por liberdade:

“A obra me custou mais de 30 anos de trabalho e representa o cumprimento de uma promessa, a de trazer de volta um dos mais importantes episódios da história do Brasil” diz o autor. “Eu tinha consciência de que meu trabalho era importante e possuía boas condições de concorrer ao grande prêmio. E também sabia que estavam na disputa outras obras muito interessantes e de grande destaque. Mas havia um fundo de esperança e fiquei muito feliz com a conquista”, ressalta Audálio Dantas.

O jornalista Audálio Dantas em sessão de autógrafos / Divulgação: Fundação Memorial da América Latina


A narrativa, por vezes rodeada  pela seriedade e honestidade de uma testemunha ocular dos fatos, é
necessária a todos que querem entender um pouco mais aquele triste país dos anos 70. episódio que teve como uma de suas principais consequências o rompimento do silêncio da imprensa, narrando todas suas angústias e incertezas pessoais, tentando encontrar o difícil equilíbrio entre a firmeza que o momento exigia e a prudência para evitar que a mão forte do regime viesse a soterrar a trincheira que se tornou o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, do qual Dantas era presidente naqueles dias tenebrosos.

É um livro espetacular, apesar de retratar um tema extremamente triste. Só que mais que uma mera biografia, trata-se de um título de memória e de formação histórica. Pois como diz Juca Kfouri, na contracapa do livro: "ele escreve e é inscrito pela história daquele passado". E como cidadãos, é essencial rever o passado, para impedir que ela se repita.



  • Recomendando, Nota:


  • Onde Comprar?


    http://livraria.folha.com.br/livros/biografias-e-memorias/duas-guerras-vlado-herzog-audalio-dantas-1187338.html

    ***

    Para quem ainda não leu a obra mais famosa de Caco Barcellos, vai a minha recomendação. Vale muito a pena ler, pois nos é apresentada uma realidade que muitos de nós não conhecemos, ou até a conhecemos, mas de forma velada.



    Título: Rota 66
     
    Subtítulo: A História da Polícia que Mata

    Autor: Caco Barcellos
    Editora: Record
    ISBN: 9788501065261
    Ano: 2003
    Edição: 34
    Número de páginas: 352
    Acabamento: Brochura
    Dimensões: 16 cm x 23 cm x 1 cm
    Formato:  Médio
    Assunto: Jornalismo / Sociologia

    Peso: 0,540 Kg
    Idioma: Português





    Lançado originalmente em 1992, o título ganhou o Prêmio Jabuti (Livro Reportagem de 1993). Com uma narrativa contagiante, o livro aborda a atuação da polícia militar paulista, sendo mais específico no retrato ao esquadrão de elite dessa força militar: a Ronda Ostensiva Tobias de Aguiar, mais conhecida como ROTA, e o seu envolvimento com o assassinato de 4.200 pessoas ocorridos entre as décadas de 1970 e 1980.

    A história da unidade policial retrata as ações de um “esquadrão da morte oficial”, onde as vítimas eram quase sempre jovens pobres, pardos e negros e, em muitos casos, sem antecedentes criminais. Foi o resultado de uma investigação de quase uma década, para identificar todas as pessoas mortas durante o patrulhamento urbano, a partir de 1970.

    Como acontece em todos os casos relatados por Barcellos, nenhum tipo de punição é dada aos policiais, já que esses relatam os fatos como resistência à prisão e tiroteio entre “bandidos”. Em suma, o autor retrata cada caso com plena riqueza de detalhes e de movimentos, que é possível fazer o leitor sentir e até ver a cena, como se estivesse presenciando tudo.

    A obra de Caco Barcellos foi de grande importância, pois esclarece às pessoas o que realmente aconteceu com o povo brasileiro diante da ditadura pra traçar um paralelo da realidade da condição atual de segurança pública e a falta de respeito aos direitos humanos. Muitos de nós não conhecemos a realidade desses casos, mas o que tem realmente por debaixo dos panos de cada história? Por que acreditamos sempre na versão da Polícia? O que mostra o autor é que a verdade, por vezes, é omitida da sociedade brasileira pela própria autoridade pública.

    O repórter Caco Barcellos começou a sua carreira no jornal Folha da Manhã (Porto Alegre), no fim de 1973, em Porto Alegre, onde nasceu. Em sua longa carreira, jamais abandonou a trincheira da reportagem para exercer qualquer outra função que não fosse a de repórter, centrando suas matérias em dois focos: injustiça social e violência. Projetado para o grande público por seu trabalho na televisão, onde começou no programa São Paulo na TV, da Editora Abril, Caco Barcellos é hoje um dos mais conhecidos repórteres da Rede Globo, onde trabalha desde 1985.

    Caco Barcellos, com a equipe do programa Profissão Repórter, da Rede Globo / Divulgação: TV Globo


    De todo, não é difícil imaginar o porquê de Rota 66 ser considerado ainda hoje, um dos melhores livros de jornalismo investigativo do país.



  • Recomendando, Nota:


  • Onde Comprar?

     https://www.amazon.com.br/Rota-66-Barcellos-Caco/dp/8501065269/ref=sr_1_2?s=books&ie=UTF8&qid=1466384315&sr=1-2

     https://www.amazon.com.br/Rota-66-Barcellos-Caco/dp/8501065269/ref=sr_1_2?s=books&ie=UTF8&qid=1466384315&sr=1-2

    ***
    Quem conhece Marcelo Rezende apenas das telas dos programas policiais vespertinos, desconhece os bastidores de uma lenda viva do jornalismo investigativo. Ao longo de mais de 40 anos de carreira, deu ao jornalista muita história para contar. E, generosamente, ele decidiu que estava mais do que na hora de contar ao público sua trajetória.



    Título: Corta Pra Mim
     
    Subtítulo: Os Bastidores das Grandes Investigações

    Autor: Marcelo Rezende
    Editora: Planeta do Brasil
    ISBN: 9788542202274
    Ano: 2013
    Edição: 1
    Número de páginas: 240

    Acabamento: Brochura
    Dimensões: 16 cm x 23 cm x 1 cm
    Formato:  Médio
    Assunto: Jornalismo / Memórias & Biografias

    Peso: 0,420 Kg
    Idioma: Português





    O livro trata de histórias narradas com o bom humor, polêmica e a simplicidade características do jornalista, que tem hoje fãs de todas as idades e em todos os cantos do país, aproveitando como título, o seu bordão mais emblemático, entoado durante seu Hard News diário.

    Ao longo das 14 histórias que Rezende tece no livro, vamos conhecendo um pouco de sua história: do cabeludo Hippie que tinha resolvido abandonar o curso de mecânica, para estagiar no Jornal dos Sports, convidado por seu primo Merival Júlio Lopes. Passou pela Rádio Globo e pelo jornal O Globo. Em 1978 foi convidado para integrar a equipe da Revista Placar, por onde ficou por uma década. Em 1988 se tornou editor do Globo Esporte. Durante a narrativa, é notório o olhar do profissional entre a diferença do trabalho na mídia impressa e a televisiva.

    Devido ao excelente nível de seu trabalho, foi transferido para o Núcleo de Reportagens Especiais da TV Globo, onde começou a se “dedicar de verdade ao jornalismo investigativo”, fazendo matérias para o Fantástico, Jornal Nacional para o Globo Repórter. Marcelo Rezende ainda conta um pouco do desafio em implementar o projeto do programa Linha Direta, para fazer frente à crescente concorrência que a TV Globo enfrentava com o SBT e o popularesco Programa do Ratinho, nos idos de 2000.

    Marcelo Rezende assina livro para o colega Marcio Canuto - Danilo Carvalho / Divulgação

    Como curiosidades, o autor fala sobre sua condenação à prisão perpétua no Paraguai e como conseguiu escapar da pena. Marcelo conta também a entrevista que fez com José Rainha, líder do ainda pouco conhecido Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Outra história narrada pelo jornalista é a da Favela Naval de Diadema, na qual policiais extorquiam dinheiro das pessoas, em um tempo em que não se falava do que chamamos hoje de milícias. Há também um excelente relato sobre as investigações sobre o desvio de dinheiro na CBF, feito por Ricardo Teixeira, presidente da entidade à época, além das entrevistas com dois dos mais conhecidos serial killers brasileiros: Pedrinho Matador e o Maníaco do Parque.

    Uma pérola, que pode passar desapercebido ao olhar desatento durante a leitura, são os conselhos para jornalistas novatos: como propor pautas, empreender na carreira, como lidar com fontes e entrevistados, dentre outras.

    O livro deixa um bom gostinho de quero mais. Gostem ou não, o livro ajuda quebrar um pouco da imagem sensacionalista e, por vezes, chata que Marcelo Rezende explora na TV. Por traz do showman improvisado, há um excelente, corajoso e honesto repórter. Rezende ainda deixa no ar, em diversos momentos do livro, dando a certeza de que virão mais livros por aí!



  • Recomendando, Nota:


  • Onde Comprar?

     http://www.saraiva.com.br/corta-pra-mim-5711130.html

    http://www.saraiva.com.br/corta-pra-mim-5711130.html

    Espero que vocês aproveitem as dicas!
    Pessoalmente, quero agradecer sempre a vocês que acompanham este trabalho.
    Obrigado pelo carinho.
    Uma ótima semana a todos!

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