terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Críticas e Resenhas #012 - Memória de Elefante: A Melancolia de António Lobo Antunes


Apreciar a literatura é, muitas vezes, caminhar por sendas que nos levam a palcos inóspitos e até incompreensíveis. Conhecer um pouco mais da literatura portuguesa contemporânea, de certo, têm trazido a mim gratas surpresas: como as obras de Saramago, de Agustina Bessa-Luís, de Teolinda Gersão, entre outras. Mas o mesmo, não posso dizer ao primeiro livro que li (e reli), de um dos autores portugueses mais premiados dos últimos tempos: António Lobo Antunes.

Faço essa crítica com profundo pesar, mas parto do princípio da imparcialidade jornalística, da publicidade e da liberdade de expressão. Mesmo que eu fosse patrocinado por editoras, autores, ou seja lá quem for, escreveria as observações que redigirei a seguir.

Mas ressalvo que lerei mais livros de António Lobo Antunes, pois um ganhador do Prêmio Camões é digno de uma observação mais apurada.

Sempre me perguntam que tipo de histórias eu gosto de ler ou de contar. E eu acho que temos nos livros, histórias e personagens que tiveram sonhos grandes e que conseguiram, ou não, concretizá-los. A arte de contar histórias, seja pelas artes ou pelo jornalismo, é o que amo fazer. De certo, esta é a única profissão que nos permite celebrar uma vida em todos os seus aspectos, inclusive no que há além dela: fantasias, sonhos, devaneios, realidades, guerras, dores, ilusões, romances, comédias, nascimentos, mortes, vitórias e fracassos.

Contar histórias é a forma que encontramos para registrar a memória e evolução do pensamento humano. Mas tem cada história tão desnecessária...



Título: Memória de Elefante

Autor: António Lobo Antunes
Editora: Folha de S.Paulo
ISBN: 9788579490507
Páginas: 160
Edição: 1
Tipo de capa: Brochura 
Ano: 2012
Assunto: Literatura Estrangeira / Romance / Autobiografia
Idioma: Português 
Dimensões:  21 x 14,5 x 1 cm
Peso: 0,290 Kg





  • Não Recomendo, Nota:



  • Onde Comprar? https://www.estantevirtual.com.br/b/antonio-lobo-antunes/memoria-de-elefante/3770826385




    Comecei a ler Memória de Elefante em 2013, mas parei no segundo ou terceiro capítulo, não sei bem porquê. Achei muito chato. Daí, o livro ficou na minha cabeceira, sossegado, e chegou a me acompanhar em muitas viagens, na esperança de ser lido. Até que há um tempo atrás, o (re)li do início ao fim. Foi um duro embate, pois trata-se de uma obra de estréia do autor.

    A história, publicada originalmente em 1979, toma lugar ao longo de um dia e uma noite de crise existencial de um psiquiatra português, assim como Lobo Antunes, desde o início da sua jornada de trabalho, até à alvorada do dia seguinte.

    A narrativa tece o perfil de um homem angustiado por uma série de fracassos pessoais: a mal explicada separação da sua mulher e duas filhas, a frustração profissional no exercício da psiquiatria no mesmo hospital onde trabalhara o seu pai, a solidão e o desespero, o jogo como fuga à realidade, os fantasmas do passado (da guerra e da infância), a busca de uma voz ideal para a sua escrita.

    Ou, em poucas palavras, a terrível procura de si mesmo e de seu lugar no mundo.

    O próprio autor revela que começara a escrever este romance quando ainda estava casado com sua primeira esposa. Mas só o concluiu quando o casamento já tinha acabado. Portanto, a obra tornou-se uma espécie de autobiografia deste período litigioso.

    A "sofrência" da história, navega errante entre expectativas, fatos e desilusões. As projeções do futuro e as contradições que afligem o narrador, ambos, pelo menos, resultam em uma iluminação e um acalanto à noite escura e fria da alma do protagonista, em um texto cujas virtudes catárticas, visa a libertação de suas obsessões ou de sua própria paranoia.

    A obra é incomum, de leitura nada fácil, exigindo atenção e extrema dedicação a cada frase. Emprega o discurso na terceira pessoa, mas há fugas no roteiro para o relato na primeira pessoa. Todavia, há um enredo muito denso e sisudo. E tudo isso, envolto no caráter perturbador e autobiográfico da obra.

    A mescla de mágoas versa a narrativa de um homem sufocado pela própria existência, que teve de passar pela Guerra Colonial que sua pátria travava em Angola, nos anos 1970.

    Um detalhe importante da história é a indisponibilidade psicológica deste psiquiatra para atender seus pacientes, a ironia desrespeitosa com que ele observa o comportamento dos outros ao seu redor, e ainda (para terminar o seu fatídico dia), a busca dos afetos pueris, numa casa de jogos, onde se deixa assediar por uma mulher com o dobro da sua idade, com as mesmas carências, e com quem acaba por passar a noite.

    Nessa circunstância, o livro vai criando uma tensão à volta das indagações interiores do psiquiatra que se esgota nos dois capítulos finais. Além do vazio indignante, o fim do livro nos deixa nuances (quase imperceptíveis) barrocas, ultrarrealistas e até metafóricas do aspecto psicológico e afetivo de uma narrativa. É uma espécie de exorcismo de quem, de fato, deseja escrever por ofício.

    António Lobo Antunes e seus companheiro: o cigarro e os livros - 2015 - David Clifford/4SEE

    Se posso denotar algum valor à obra, isso não se fará na história que ela conta. É provável que em sua publicações posteriores, Lobo Antunes consiga fechar sua ideia intrínseca, sua proposta de estilo literário. Isso é muito raro e peculiar em alguns escritores.

    O próprio autor revelou, em entrevistas recentes, que 2020 será o último ano em que publicará, fechando a sua literatura editada em cerca de trinta títulos (excluindo as crônicas), afirmando ainda que todos esses livros, desde Memória de Elefante, constituem um todo.

    Tudo isso me faz concluir, apesar de não ter gostado do livro em nada, que Lobo Antunes cria, à sua maneira, uma forma muito estranha de se contar histórias. E por mais que o autor tenha vindo de uma super família tradicional portuguesa (e multi-talentosa) que se espalhou pelo mundo, algo parecido com os "Buarque de Hollanda" no Brasil, é notório os efeitos devastadores que as guerras, as ditaduras e, sobretudo, a melancolia fazem com o indivíduo, suas gerações e com uma sociedade.

    Forte Abraço a todos, neste finzinho de carnaval!
    E bora ler e foliar, meu povo! ;) ✌ 😎


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    sábado, 18 de fevereiro de 2017

    Nossas Autorias #012 - Genocídios Brasileiros: À La Carte ou Self-Service?


    Revista O Cruzeiro, 1961 - Luiz Alfredo


    Por Diego Oliveira


    A história do mundo, nada mais é que a história da guerras. Os fatos históricos, que tanto se estudam nas aulas de história, dão conta de conflitos que se sucedem, cabendo a sobreposição de forças, sutilmente, forjar as hastes do futuro.

    Muito se engana quem pensa que essa realidade passa longe do Brasil. A fama internacional de um povo pacífico e cordial, é mera balela para inglês ver. Haja visto, o exemplo da carnificina na Guerra do Paraguai, que dizimou 2/3 da população paraguaia da época.

    Outro equívoco é citar que a última guerra travada pelo Brasil, foi a campanha expedicionária na 2ª Guerra Mundial. As 459 baixas oficiais, somadas aos mais de 22 mil combatentes, afetados seriamente no conflito, nada se compara aos genocídios com os quais os brasileiros convivem nesses tempos de "paz".

    Uma série de estudos, chamado Mapa da Violência, de autoria do sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, com apoio da Unesco, do Instituto Ayrton Senna e da FLACSO (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais), entre outras entidades, e, mais recentemente, publicados pelo Governo brasileiro, mostra que quase 1 milhão de pessoas foram mortas por arma de fogo, entre 1980 a 2014. Desses, mais de 830 mil pessoas foram vítimas de homicídios culposos.

    Outra pesquisa feita em parceria entre o Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), com base no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, chamada de Atlas da Violência, cita mais de 59 mil homicídios só em 2014, colocando o Brasil no primeiro lugar do ranking mundial desse tipo de crime.

    “Para situarmos o problema, estas mortes representam mais de 10% dos homicídios registrados no mundo e colocam o Brasil como o país com o maior número absoluto de homicídios”
     - Atlas da Violência 2016 (Ipea/FBSP)

    O Brasil, sem conflitos religiosos ou étnicos, sem disputas territoriais, sem guerra civil, consegue a façanha de vitimar, por armas de fogo, mais cidadãos do que muitos dos conflitos armados contemporâneos, como as guerras na Chechênia, o da Síria, a Guerra do Golfo, as várias intifadas do Oriente Médio, as guerrilhas colombianas ou as da África, ou, ainda, uma longa série de outros conflitos armados acontecidos já no presente século.

    Somem-se a isso: os 12 milhões de desempregados, as 15 milhões de crianças afetadas pela fome e pela extrema pobreza, os mais de 40 mil mortos por ano no trânsito, aos milhares que morrem por falta de atendimento nos hospitais, aos outros milhares que perecem por falta de saneamento básico, além das infindas mazelas sociais e teremos, nada mais, nada menos, que o retrato do genocídio contemporâneo brasileiro.

    Não há de se colocar na conta desta barbárie social, as vidas que se perdem precocemente pelos vícios nocivos, pelos desastres naturais, acidentes aéreos, ou muito menos pelos péssimos hábitos de vida de grande parcela da população brasileira. 

    O que se destaca, nestes números terríveis, é o caos social que impera no Brasil. Por mais que instituições renomadas mundialmente, como o Banco Mundial, destaque que o país tenha tido consideráveis avanços sociais nos últimos 20 anos, o volume da letalidade do Brasil à seu povo é algo sem precedentes na história.

    A guerra que se trava no Brasil não é velada, pois os números e os fatos estão expostos para quem quiser ver. E os meios com os quais a população e o governo tentam combater tais genocídios, até agora, se mostram totalmente ineficazes. E não é raro que os cidadãos deste país não se indignem com este cenário: pois se tornou algo comum, cotidiano e irrelevante.

    Esses genocídios, perfeitamente evitáveis, sequer são discutidos na sociedade, nas escolas, nas esferas governamentais, nos meios de comunicação, nos organismos internacionais, nas cortes judiciárias e nem mesmo nas nossas casas. Muitas ações políticas, sociais, militares e econômicas, ao longo de décadas, falharam em produzir a contenção ou a diminuição deste panorama lamacento e pavoroso em que o Brasil mergulhou.

    Em 2013, a escritora e jornalista Daniela Arbex publicou um livro, Holocausto Brasileiro, que viraria um documentário homônimo produzido pela HBO em 2016. Premiada com um Prêmio Jabuti de Literatura, a obra mostra um dos muitos genocídios que o povo brasileiro sofreu ao longo de sua história. 60 mil brasileiros mortos dentro do Manicômio Colônia, em Barbacena (MG), entre as décadas de 1903 e 1980.



    Título: Holocausto Brasileiro

    Subtítulo: Vida, Genocídio e 60 Mil Mortes No Maior Hospício do Brasil

    Autor: Daniela Arbex
    Editora: Geração Editorial
    ISBN: 9788581301570
    Ano: 2013
    Edição: 1
    Número de páginas: 272
    Acabamento: Brochura
    Dimensões: 16 cm x 23 cm x 1 cm
    Formato:  Médio
    Assunto: História do Brasil / Livro-Reportagem / Lteratura Nacional

    Peso: 0,440 Kg
    Idioma: Português






  • Recomendando, Nota:



  • Onde Comprar?


    http://www.saraiva.com.br/holocausto-brasileiro-vida-genocidio-e-60-mil-mortes-no-maior-hospicio-do-brasil-4896352.html?sku=4896352&force_redirect=1&PAC_ID=123134&gclid=CODwsdLMmtICFbEV0wodCuIM8g

    ***


    Segundo o livro-reportagem, cerca de 70% das pessoas não tinham diagnóstico de doença mental. Ainda cita que o momento mais dramático se deu a partir de 1930, onde os critérios médicos desapareceram. Em 1969, com a ditadura, o caso foi blindado. Nos anos de chumbo, aquilo que foi criado para atender pessoas com deficiência mental, acabou sendo usado para colocar pessoas indesejadas socialmente, como gays, negros, prostitutas, alcoólatras, desempregados, militantes contrários ao regime militar e até mesmo, pessoas que litigiavam heranças de família.

    Além de transportados em vagões de cargas, segregados, torturados e mortos, as pessoas ainda tinham seus cadáveres vendidos e as ossadas comercializadas em faculdades de medicina (como a UFMG). A autora estima, em valores atuais, que só o comércio de ilegal de corpos tenha arrecadado R$ 600 mil, em valores atuais.

    Ninguém nunca foi punido pelo genocídio do Manicômio Colônia.

    Vejam que o holocausto de Barbacena, trazido à luz por Daniela Arbex, é apenas um dos muitos genocídios que passam silenciosos, impunes e irreparáveis pela história do Brasil. E pensar que, por exemplo, a ONU e a Corte Internacional de Justiça, em Haia, condenou genocidas internacionais por números de mortes ínfimos, ante Barbacena.

    O genocídio é um tipo de limpeza étnica. Mas podemos estender ao genocídio, a contenda da limpeza social. E isto claramente ocorre no Brasil, se acentuando, em volumes estratosféricos, nos últimos 50 anos.

    Esse é o triste cenário atual do país das bananas, ou dos bananas (como queiram), onde coxinhas e mortadelas disputam quem ladra mais alto, enquanto o salame adentra em seus próprios rabos.

    Muitos intelectuais ou pessoas "estudadas" de tais temas, podem contestar. Mas este é o verdadeiro golpe, que surra a cada dia o povo do brasileiro. E é curioso que seja um golpe do povo, pelo povo e para o povo. É diante deste golpe que, realmente, não se pode calar.

    O papel da literatura, do jornalismo, da educação e das artes, e de todos de uma maneira geral, também deve ser o de lutar e de empregar os seus recursos para combater tais genocídios, ao invés de realimentá-los.

    A perplexidade permanente do que se é capaz de fazer quando se detém algum poder, por menor que ele seja, torna o fato ainda mais grave. Governo e sociedade negligenciam o drama mais agudo de sua própria história.

    São vidas humanas perdidas, na mais banal das guerras: a da ignorância. Se toda guerra é burra, os genocídios brasileiros do cotidiano são ainda mais idiotas.


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    sábado, 11 de fevereiro de 2017

    Dicas de Leitura #011 - ... Esse amor, quase TRAGÉDIA!


    Assim sintetizou Ataulfo Alves, nesta frase de introdução do samba "Fim de Comédia". Em sua letra dos anos 1950, o compositor mineiro versa sobre o aquilo que chamo de histórias de Amores Trágicos. Talvez seja antiquado citar Ataulfo Alves, ao tratarmos de dicas literárias de livros "atuais" ou "da moda", mas temos de ressaltar que bem mais antigo é este gênero literário, que remete à Grécia Antiga. Em nossas dicas literárias de hoje, vamos falar de 3 histórias que se vestem da tragédia e do forte apelo emocional para provocar a tão falada catarse.

    O primeiro título que vamos abordar, se tornou um sucesso da literatura juvenil, que vendeu cerca de 20 milhões de cópias em todo o mundo, consagrou o premiado escritor norte-americano John Green no mercado editorial contemporâneo e o transformou em uma das personalidades mais influentes do mundo.



    Título: A Culpa é das Estrelas

    Autor: John Green

    Tradutora: Renata Pettengill
    Editora: Intrínseca

    ISBN: 9788580572261
    Ano: 2012
    Edição: 1
    Número de páginas: 288
    Acabamento: Brochura
    Dimensões: 14 cm x 21 cm x 1 cm
    Formato:  Médio
    Assunto: Literatura Estrangeira / Romance / Ficção Juvenil

    Peso: 0,340 Kg
    Idioma: Português






    Apesar do enorme sucesso editorial e da bem sucedida adaptação cinematográfica, o livro está longe de ser a obra prima do autor, e mais longe ainda de se tornar um clássico literário. Em uma dica passada, citamos outro de seus títulos, "Quem é Você, Alasca?", que dispõe de qualidades bem superiores.

    Todavia, temos de destacar que "A Culpa é das Estrelas" é uma excelente praia para os adolescentes mergulharem no mar das histórias trágicas, que lhes parecem tão distante de suas realidades. Quando se é jovem, exceto raros casos, pouco se pensa em morte, doenças ou coisas do gênero.


    Pôster Promocional do filme - 20th Century Fox

    Segundo o próprio John Green, este livro é uma homenagem à história da jovem Esther Grace Earl, uma menina de Massachusetts, que John conheceu em um evento de fãs de Harry Potter. Nela, John se inspirou para escrever o livro, já que ela teve uma vida super ativa e laboral, mas sucumbiu, vitimada por um câncer de tireoide aos dezesseis anos. Apesar de sua morte precoce, Esther segue sendo lembrada em trabalhos sociais, geridos por sua família e por sua enorme legião de fãs.

    O autor John Green e Ester - Reprodução


    A edição brasileira deste livro traz, originalmente, logo na capa, uma recomendação de Markus Zusak: o autor de "A Menina que Roubava Livros". A editoração é muito bem feita, a tradução também, o rítmo é bem ágil, mas a composição do roteiro e o desenvolvimento do enredo é uma verdadeira colcha de retalhos de elementos literários. É claro que a linguagem é simples e que o livro, por vezes, soa ingênuo. Mas tudo faz sentido, partindo do ponto de vista que os protagonistas são adolescentes da típica família de classe média norte-americana do século XXI.

    A narrativa se dá por Hazel Lancaster, que se apaixona por Gus Waters. Os dois se conhecem em um grupo de apoio para os jovens afetados pelo câncer, que se reúnem no porão de uma igreja, chamada "o coração literal de Jesus". Ela foi ao grupo por insistência da mãe. Ele foi ao grupo para apoiar o amigo Isaac.

    Dos encontros, surge uma amizade moldada por dicas literárias, filmes, redes sociais, humor ácido e pela doença de ambos. Gus, misteriosamente, começa a se ausentar dos encontros e quando ele ressurge, está indignado com o fato do livro que ela ama não ter final. Os dois então se unem numa jornada para encontrar o autor do tal livro, que mora em Amsterdam. Depois de trocarem alguns e-mails, o autor os convida para conhecê-los e falar mais sobre o livro.

    A paixão que um têm pelo outro e pela vida em si, resulta num estado de espírito que fomenta o bem estar do jovem casal, especialmente devido a dura luta contra o câncer. Mas, como é sabido: amar é sofrer, e as tragédias anunciadas se sucedem de maneira surpreendente.

    Por mais que emerjam nuances de conservadorismo, rebeldia, ultra-realismo, humor negro e melodrama, o livro é um fertilizante de lágrimas. Principalmente no seu desfecho. Cumpre o papel de transmitir a história que se propôs, com um estilo conflitante entre a história real, a ficção do autor e dos milenares elementos literários.

    A minha recomendação deste título, apesar da crítica literária, é justamente pelo caráter social e até ideológico. Uma história importante, que dá um tapa na cara da sociedade atual, mas que peca como referência literária.




  • Recomendado, Nota:




  • Onde Comprar?


    http://www.saraiva.com.br/a-culpa-e-das-estrelas-4073261.html


    ***


    Quando se entra em uma livraria, é raríssimo ver um gênero latino nas prateleiras de destaque. Para o consumidor mais desatento, transbordam títulos traduzidos do inglês, em detrimento a literatura nacional ou até mesmo a de outros países. E sempre, quem perde com isso é o público, pois o fator comercial nos censura de belíssimas histórias, como essa.



    Título: Faça Amor, Não Faça Jogo

    Autor: Ique Carvalho

    Editora: Gutenberg
    ISBN: 9788582352076
    Ano: 2014
    Edição: 1
    Número de páginas: 224
    Acabamento: Brochura
    Dimensões: 14 cm x 21 cm x 1 cm
    Formato:  Médio
    Assunto: Autoajuda / Biografia / Relacionamentos / Nacional

    Peso: 0,300 Kg
    Idioma: Português







    Eu acredito que toda história de amor, vale uma poesia. Amor de mãe, de pai, de irmão, de amigo, de fé, de um casal e até de um poliamor (por que não? rs...). Amor à natureza, ao próximo... Enfim, o amor é, e sempre será, a grande motivação e a maior inspiração da vida, com certeza!

    Ique Carvalho não é o mais famoso ou o mais brilhante escritor brasileiro contemporâneo. Mas sua história de amor (ou de amores, como queiram), muito bem compilada neste livro, nos traz um pouco do esforço hercúleo que este mineiro teve para trazer a tona, partes de sua honesta e sincera autobiografia. E que história...

    O jovem autor de Belo Horizonte conquistou com muita garra o seu espaço no mercado editorial, a partir de seus texto publicados no blog The Love Code. Em junho de 2013, dois fatos mudaram totalmente os rumos de sua vida e de seu blog: na mesma semana viveu o fim traumático de um relacionamento amoroso e  seu pai recebera o diagnóstico de uma doença degenerativa grave e irreversível. Daí, surge a possibilidade de escrever um livro.


    Ique Carvalho - The Love Code / Divulgação

    O título traz crônicas com uma espécie de “conselhos” sentimentais, descritos em histórias reais do próprio autor. São lindos exemplos expostos para fomentar a compreensão de que devemos valorizar a vida e o amor de uma forma muito maior.

    Além dos textos carregados de fraternidade, paixão, dor, alegria e principalmente da relação pai e filho, Ique descortina muitos dos "joguinhos amorosos imbecis" que muitas pessoas já enfrentaram pela vida. A morte eminente de seu pai, dá o norte à história. Pessoalmente, é um livro simples, mas que me identifiquei muito, justamente por vivenciar na pele tais dramas.

    O livro ainda inova em trazer, a cada início de um capítulo, uma trilha sonora (assim como em seu próprio blog). No livro, essa música pode ser ouvida através do QR Code disponibilizado em cada texto, onde o usuário pode, facilmente, conectá-la com seu smartphone.

    Inovação multimídia do livro - Carol Kurras

    Por mais que eu não goste de livros rotulados como fáceis e de autoajuda, os valores morais, a elegância dos gestos e a dignidade no trato das relações interpessoais são estampados de uma forma direta e assertiva. Com toda a certeza, este livro me fez crer que nem tudo esta perdido no ser humano, sobretudo, na sociedade brasileira.

    Faça Amor, Não Faça Jogo” é um livro real, de uma ética possível e que deve ser utilizado como meta de vida ou ainda como remédio contra os males do egoísmo, do machismo e até do perfeccionismo padronizante dos nossos tempos. Viver esse amor na prática, no entanto, nem sempre é fácil. Mas só basta encontrar as pessoas certas e os valores do bem, que sim: ele pode existir.


  • Recomendando, Nota:




  • Onde Comprar (com a dedicatória do autor)?

    http://loja.thelovecode.com.br/



    ***

    Peruana de nascimento, Isabel Allende Llona é considerada a mais exitosa escritora contemporânea da língua espanhola ainda em atividade. Ela é prima de 2º grau do ex-presidente chileno Salvador Allende, que, oficialmente, cometera suicídio após ao cerco do Palácio de La Moneda, durante o Golpe de Estado no Chile, em 1973. 

    Filha de um diplomata, a autora rodou o mundo desde criança. Chilena e Norte-Americana de nacionalidade, viveu exilada por longos períodos em países da América do Sul e da Europa. Desde 1988 tem residência nos Estados Unidos. Ao seus 74 anos, soma mais de 67 milhões de cópias vendidas e seus trabalhos foram traduzidos para 35 idiomas. Coleciona centenas de prêmios e títulos, sendo a mais importante, a condecoração, por Barack Obama, com a Medalha da Liberdade de 2014, a mais alta honraria civil nos EUA.

    Cerimônia de Condecoração da autora em 2014 - CBC Radio

    Apesar de pouco conhecida pelos brasileiros, sua obra é vasta. A autora ficou conhecida no gênero do realismo fantástico, muitas vezes sendo comparada com Gabriel García Marquéz. Mas também se destaca por seus roteiros para teatro e cinema. Por ora, vamos tratar de um título muito especial desta autora.

    Para um escritor, escrever uma autobiografia é um dos desafios mais radicais, e talvez, um dos mais doloroso. Porque quando tudo já se tornou passado, e não se quer mais lembrar de algo superado, há sempre de se recordar pelas palavras compostas, eternizadas nas obras literárias. Certamente é uma cicatriz: a ferida, por mais que esteja sanada, sempre será lembrada pela marca que se deixa. Basta olhá-la.

    "As coisas mais importantes de minha vida se passaram nas câmaras secretas do meu coração e não pertencem à uma biografia." Isabel Allende


    Título: Paula

    Autor: Isabel Allende
    Tradutora: Irene Moutinho
    Editora: Bertrand Brasil
    ISBN: 8528604934
    Ano: 1997
    Edição: 6
    Número de páginas: 464
    Acabamento: Brochura
    Dimensões: 16 cm x 23 cm x 1,3 cm
    Formato:  Médio
    Assunto: Biografia / Romance / Literatura Estrangeira

    Peso: 0,540 Kg
    Idioma: Português






    O livro é um testemunho de Isabel Allende, narrado em primeira pessoa, sobre a morte de sua filha Paula, que em dezembro de 1991 foi internada após um acidente e mantida em coma num hospital em Madri por conta de uma Porfiria aguda.

    A mãe permanece ao lado da filha o tempo todo, durante a internação na capital espanhola. Chegou a se  hospedar em um motel miserável, onde, à noite, ele escrevia o romance. O destino de Paula, no entanto, só piorava. A internação torna-se inútil, e logo segue transferida para a casa dos Allende, em San Francisco, onde pôde ser cercada por outros familiares e amigos.

    Apesar de ser um momento de extrema dor e sofrimento para uma mãe, a história não é chata, brega ou melodramática. Através do livro, Isabel remonta os melhores momentos vividos ao lado de seus familiares, equilibrando a toxicidade do amor, os momentos mágicos no passado de sua família e a incurabilidade desesperada Paula no coma.

    Suas memórias dão conta de experiências pessoais e acontecimentos políticos que se unem em torno de sua trágica perda. A narrativa oscila entre o formato dirigido ao leitor e uma "carta" destinada à própria filha. O livro é cheio de flashbacks, já que se trata de uma narrativa não linear, e induz o leitor a ler muito rápido para não perder o fio da meada.

    É um retrato do Chile. de Salvador Allende à era Pinochet, da ditadura e os percalços dos exilados, descrevendo os fatos com incrível fidelidade e riquíssima linguagem. Há personagens familiares incrivelmente hilários, que apesar do humor, dão belas lições de vida. Uma história que desperta todos os sentimentos, sendo o melhor deles, o de valorização da vida. A própria autora ressalta que esta não é uma obra sobre a morte, mas uma celebração da vida.

    De certo, o amor de uma mãe é único. Assim como único também é a descoberta da força de uma alma para encarar seus medos mais íntimos: lidar com o luto, com a perda e a culpa. Toda essa energia lhe permitiu registrar e compartilhar essa história com toda a potência de uma alma ferida, mas repleta de amor.

    O poder deste livro está na humildade da resignação, o exorcismo da temida morte e a transformação da vida desta mãe, em uma realidade translúcida e encantada.


  • Recomendando, Nota:



  • Onde Comprar?

     https://www.amazon.com.br/Paula-Isabel-Allende/dp/8577990443/ref=sr_1_1?s=books&ie=UTF8&qid=1486862982&sr=1-1


    https://www.amazon.com.br/Paula-Isabel-Allende/dp/8577990443/ref=sr_1_1?s=books&ie=UTF8&qid=1486862982&sr=1-1

    Em breve vamos tratar do universo fantástico das demais obras de Isabel Allende.

    E por enquanto, ficamos por aqui!

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    sábado, 4 de fevereiro de 2017

    Nossas Autorias #011 - Quando os Monstros Ressurgem




    Por Diego Oliveira


    E aí está! A primeira é pesada, quente, lânguida, úmida... Lenta. Vacila em não tombar para seu fiel destino. Face abaixo, a bordo ou ao lado, a gravidade, nela, age. E no seu fito, seu derradeiro caminho, descortina-se o acesso para decretar o destino da segunda, que já se forma no ventre fértil do olhar naufragado.

    A segunda cairá, agora mais depressa. Não há ritmo marcado, como uma rígida coreografia de uma dança clássica. Displicente, a consciência atua apenas como maestro, como a indicar qual solista irá atacar.

    E assim se faz: uma, duas, três... E cada qual, carrega consigo o peso de moribundas memórias, devaneios, culpas adormecidas, êxitos que se metamorfosearam em fracassos e até alguma felicidade, que só agora, vêm ao entendimento.

    É certo dizer, na incerteza de vãs meditações, que a formosura monstruosa tira, pouco a pouco, a crença humanista ante um turbilhão de situações absurdas e inconcebíveis. Mas há de se ressaltar de que muitos monstros são alimentados unicamente por ações individuais, próprias de cada um consigo mesmo.

    A tenebrosa inquietude que se apodera da escura e desastrosa tentativa de conciliar um descanso para a mente frente ao cansaço do corpo e das ideias irrequietas, se transforma em navegação hostil e submersa. Nesta guerra não se escutam estampidos de bombas, tampouco troar de canhões, mas apenas lamentos e gemidos de um pranto abafado, contido e comprido.

    Os descuidos, a insensatez da expectativa trazem dor ao coração e tingem o leito da alma com a obscura frustração. A bondade incompreendida se transforma em simples servidão. O temível fantasma da intransigência, enrodilha-se em túnicas de farsas, de faltas, de falhas e marcha em travessia de farpas.

    O lume da vida se esvai, qual chama ébria em destemperada ventania. Lançadas ao chão, as convicções germinam. Enraizadas, brotam talos de esperanças que, a mercê de circunstâncias e da negligência, se convertem em matéria orgânica perdida no mundo. Sua marca sobre a terra durará apenas ao jugo do tempo, e que logo a converterá em pó: o sal da terra.

    E sendo o sal, insípido, para nada mais prestará, senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens. Eis aí, um dos muitos e valorosos ensinamentos do meigo Rabi da Galileia.

    É curioso como a doutrina do Cristo confronta todos esses monstros, que são autocriados pela mente humana. Mesmo em momentos em que se deixa transbordar toda a dor da alma, sua filosofia de amor e esperança é a porta para a iluminação.

    A parábola do sal da terra é pródiga em decretar: "vós sois o sal da terra". O sal, por si, é um composto derivado de elementos químicos. Assim como o ser humano, que deriva das mais diversas origens. A função do sal, dentre as mais diversas, é se fusão e reação: de cristais de sódio aos cloretos iodados. Tal como o ser humano: se unir e se transformar.

    Utópicas são as perseguições existenciais de perfeição e de felicidade. E quando os monstros naturais da psique humana ressurgem, os ensinos do Cristo é arma essencial: espalhados pelo mundo para dar gosto à vida, tal qual o sal deve realçar o sabor dos alimentos: na medida certa, sem imposição, sem violência, com amor e caridade. E ainda como agente preservador: impedindo a putrefação e decomposição do mundo, assim como o sal que conserva carnes.

    Quem sabe seja por isso que Deus permite que o corpo humano produza lágrimas salgadas. Para que nos lembremos Dele e das palavras de Jesus, ante as dores e as adversidades da vida.

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    terça-feira, 31 de janeiro de 2017

    Críticas e Resenhas #011 - David Copperfield, a Obra Prima de Charles Dickens


    Nesta primeira resenha de 2017, vou compartilhar a grata surpresa que a história de David Copperfield me proporcionou. E também não é surpresa a ninguém que as histórias de órfãos têm funcionado muito bem ao longo de séculos de literatura.

    Eu gosto, muitas vezes, de ler os clássicos. Graças a este bom hábito, de vez em quando eu me deparo com muitas jóias literárias, tão brilhantes que eu não hesitaria em recomendá-los a todos. Uma destas pedras preciosas é este livro, que é o mais famoso do autor inglês Charles Dickens.

    Muitos elementos de sua narrativa se refere a própria vida deste autor, que sem dúvida é o maior escritor inglês de seu tempo (da Era Vitoriana), sendo David Copperfield  muito provavelmente, a mais autobiográfica de todas as suas obras. Além disso, o mesmo Dickens disse em um prefácio do romance:

     "... de todos os meus livros, este é o que eu gosto", "como muitos pais, um filho favorito, um filho que é minha fraqueza. Eu, tenho este filho, chamado David Copperfield "



    Contextualizando:

    Dickens nasceu em Landport, um distrito localizado perto do centro de Portsea Island, sudoeste da Inglaterra. A casa onde veio ao mundo, em 1812, na Old Commercial Road agora abriga um museu ao escritor: o Charles Dickens Birthplace Museum. O lugar, como a maioria das áreas residenciais da cidade, consiste em sobrados geminadas de estilo vitoriana, clima ameno, muito verde e o vento suave do Canal da Mancha.

    O Charles Dickens Birthplace Museum - Divulgação - UK


    Mas apesar da tranquilidade da terra natal de Dickens, o secular e sempre complexo Império Britânico vivia dias de radicalismo social, intolerância religiosa e agitação política, que se seguiu no pós guerras napoleônicas, tendo ainda a Revolução Industrial como pano de fundo e a pleno vapor.

    Para se ter uma noção, meses após o nascimento de Charles Dickens, os britânicos registravam o assassinato de seu primeiro-ministro (o único na história do país a morrer desta maneira). A coroa britânica via seu rei à época, Jorge III, com 81 anos, à beira da morte. O país estava mergulhado no caos, nas mãos de impopulares regentes.

    Mas bem longe da pompa da realeza, Dickens crescia em meio a uma infância terna, bucólica, mas não por menos, maravilhosa. Passava o tempo ao ar livre, brincava, lia vorazmente e de tudo: romances, aventuras, comédias e até contos eróticos. Ele manteve as memórias comoventes da infância, ajudado por uma excelente recordação das pessoas e eventos, que ele veio a usar na sua escrita. Sua família vivia de mudança, por conta do ofício de seu pai, que era caixeiro do escritório de pagamentos da Marinha Real.

    Na adolescência, deixou a escola para trabalhar em fábricas e armazéns na luxuosa Londres do Séc. XIX, assim quando seu pai foi encarcerado em uma prisão civil, por dívidas. Essa experiência e as visitas ao pai, também serviram-lhe de inspiração em vários momentos de sua criação literária. Assim como sua ama, que cuidou de sua educação em uma escola, enquanto seu pai estava preso e ainda como as condições de trabalho árduas e muitas vezes duras cujos rigores ele acreditava ter sido injustamente suportado pelos pobres. Anos mais tarde ele escreveu que se perguntava "como eu poderia ter sido tão facilmente jogado fora em tal idade".


    Charles Dickens aos 27 anos - Daniel Maclise / British Library's

    Somente com a herança que receberá após a morte de sua bisavó, que seu pai, John, foi libertado. E mesmo após este feito, sua mãe, Elizabeth Dickens, não apoiou imediatamente a sua saída do insalubre trabalho nos armazém fabris. Isso influenciou o ponto de vista de Dickens sobre a família e o papel de seus membros. Sua falta de posição financeira ainda o atrapalhou nas investidas amorosas ao longo de sua juventude.

    Apesar de sua falta de educação formal e de toda sua tragédia pessoal, ele conseguiu na juventude casar-se. Foi auxiliar de um escritório de advocacia e ainda trabalhou como repórter. Editou um diário semanal por 20 anos, escreveu 15 romances, cinco novelas, centenas de contos, outra centena de artigos de não-ficção, ministrou e executou extensivamente palestras no exterior, foi um incansável escritor de cartas e fez campanhas vigorosa pelos direitos das crianças, da educação e de outras reformas sociais.


    Dickens no seu escritório - BBC



    A Novela da Vida Real: David Copperfield:


    Para criá-lo, Dickens trabalhou por dois anos, entre 1848 e 1850, onde planejou cuidadosamente o seu enredo e estrutura. Grande parte de todas suas obras (exceto para cinco delas), foram publicados em capítulos mensais, o que remete o leitor à uma época em que as novelas eram os folhetins literários.

    Originalmente, é intitulado "A História Pessoal, Aventuras, Experiência e Observação de David Copperfield: o jovem de Blunderstone Rookery (que ele nunca quis publicar de maneira nenhuma)". Seria mais ou menos essa tradução do título.

    E disso, já temos uma ideia de que se trata de uma longa leitura...

    Vou tomar em conta uma edição muito bem produzida que vi em na Amazon.com, mas deixo claro que li este título no formato e-book (Kindle). Dependendo da edição, o livro terá entre 700 a 1400 (se houver ilustrações). Mas não se assustem, pois valem muito a pena! É o típico livro que me arrependi de não tomar nota de diversas frases e passagens, pois se encaixa em muitas momentos da minha vida.



    Título: David Copperfield

    Autor: Charles Dickens
    Editora: Cosac & Naify
    ISBN: 978-8540507869
    Páginas: 1312
    Edição: 1
    Tipo de capa: Brochura 
    Ano: 2014
    Assunto: Literatura Estrangeira/ Romance / Bildungsroman
    Idioma: Português 
    Dimensões:  17,6 cm x 12,8 cm x 7 cm
    Peso: 1 Kg




  • Recomendando, Nota:



  • Onde Comprar: https://www.amazon.com.br/dp/8540507862/


    O livro trata-se de um Bildungsroman (romance de formação), contado, quase que inteiramente, do ponto de vista de um narrador em primeira pessoa, o próprio David Copperfield. Foi o primeiro romance de Dickens em que se observa o emprego deste recurso.


    Do começo ao fim, o enredo se desenvolve em um tema principal: o disciplinamento da vida emocional e moral do herói do romance, desde seu nascimento até a sua morte e também daqueles que o rodeavam, de mocinhos a vilões. Os personagens do romance, em geral, pertencem a uma destas três categorias:


    1. aqueles com corações disciplinados, 
    2. aqueles que não têm um coração disciplinado, ou 
    3. aqueles que desenvolvem corações disciplinados ao longo do tempo. 


    Estes personagens e os acontecimentos são tecidos em comparação e contraste entre eles, sempre em termos de sabedoria e disciplina.

    Embora a premissa em se contar a biografia de um órfão seja triste, Dickens não dá a David Copperfield um aspecto engomado, vitimizante ou artificial, tornando desse romance o máximo desdobramento de seu gênio em ação. O ritmo intercala grandes alegrias e terríveis tristeza de sua vida.

    David Copperfield fala de valores como honra e os valores de seu tempo, assim como sentimentos profundos: a verdadeira amizade ou verdadeiro amor ou ódio (camuflado na falsa humildade), a malícia, a inveja ou orgulho. Além de tratar a morte de entes queridos, como elemento condicionante à perseverança, a olhar para a frente com a cabeça erguida.

    A primeira metade da história começa com a infância do pequeno Copperfield, na fictícia inglesa cidade de Blunderstone, do início do século XIX. Embora os lugares mencionados no livro existam na vida real, é inseguro dizer se Dickens posteriormente visitou a região de Yarmouth (uma cidade que ele menciona como vizinha a sua, e que também figura em grande parte no livro, como a casa da família de sua criada: uma doce e bonachona senhora chamada Peggotty).

    Ilustração de uma das muitas edições de David Copperfield e Emily, em Yarmouth - Divulgação


    Nesta etapa, muitos fatos tristes, mas reais da época, vão emergindo. A orfandade, a ganância de homens que viviam de explorar viúvas, a submissão, a rigidez dos costumes, o trabalho infantil, a vida de menores de rua, o emprego de agressões em métodos educacionais, dentre outros.

    A sucessão de tragédias, no entanto, só vão condicionando a grande determinação e o amor a vida de nosso herói mirim. Grandes amizades e gratas surpresas fazem florescer o encantamento e as esperanças de uma vida melhor. E Dickens vai descortinando cenários, hábitos, figurinos, sabores e personagens fascinantes desta Inglaterra, com primazia de detalhes.

    David, com sua dor, seus medos, sozinho e enfrentando a maldade das ruas, marcha para encontrar a único parente, sua tia: a excêntrica Betsey Trotwood, a mulher que foi a parteira de sua falecida mãe e que, de fato, trouxe David ao mundo.

    Ela aceita cuidar dele, apesar de frequentemente batalha para conseguir a custódia do garoto. A tia o renomeia como 'Trotwood Copperfield', encurtado depois para "Trot", e pelo resto da história ele é chamado por um nome ou outro.

    A segunda metade da história exibe Dickens no seu melhor. A base mais sólida do livro, considero que sejam seus personagens. Dickens tipicamente parece empregar caracteres estáticos para representar os elementos bons e maus da vida e da natureza de cada um deles. Cada personagem é dado a sua própria voz distintiva e imediatamente reconhecível. Alguns deles, até atemporais, incluindo o próprio Copperfield.

    À medida que a história avança, se torna mais densa e complexa. Com David Copperfield em sua juventude, estabelecendo-se nos negócios, apaixonando-se, rompendo amizades e viajando para o exterior. A linguagem vêm a tecer uma interessante teia ao seu redor e sua jornada, que liga o leitor a David.

    E no desfecho, Dickens desenha reveladoramente em suas próprias experiências para arrematar esta história com a mesma medida de tragédia e de comédia. As últimas cem páginas tornam-se um arrastar lírico em fechar as vidas de vários personagens junto com o protagonista e narrador, David Copperfield. Embora a conclusão seja satisfatória o suficiente. Não há dúvida David Copperfield é um dos melhores trabalhos de Charles Dickens.

    David e Agnes, seu grande amor. Trecho do filme homônimo, de 1999 - BBC Video


    Dickens é único, como diz a sinopse do livro, o autor é um gênero em si, não o que eu questiono. Nunca um escritor poderá fazer as pessoas rir ou chorar tanto como neste livro. Escrito com seu especial estilo florido e por vezes poético, a leitura deste livro é como estar em um barco no meio de uma tempestade de sentimentos, sem maniqueísmos. Assim que como me vi com o coração pesado pelos infortúnios de Copperfield, cheguei a rir em voz alta pelas ocorrências deste ou daquele personagem.

    Em suma, é um livro que deve ser lido e apreciado. Um daqueles que torná-lo um pouco mais sábio, um pouco mais feliz. As imagens descritas, chegam a dar vontade de ver um filme desta linda história. E até tem alguns, internet afora.

    Até a próxima, e bora ler meu povo!


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    sábado, 31 de dezembro de 2016

    Dicas de Leitura #010 - Um Bocadinho de Saramago


    Portugal é a pátria-mãe que deu origem a quase tudo que se desenvolveu no Brasil. Inclusive, um dos maiores patrimônios de nossa gente, é, efetivamente, a língua portuguesa. E muito me entristece chegar ao fim de 2016, redigindo este último artigo do ano, com a constatação de mais uma negligencia de nossos governantes acerca da exclusão da obrigatoriedade do ensino de literatura portuguesa nas escolas.

    Mas, convenhamos: em raríssimos casos, essa disciplina era ensinada. Então, regulamenta-se apenas o que já era praxe: no Brasil, a última coisa que se preza, em grande parte das escolas, é o ensino em si.

    Hei de confessar, neste último texto de 2016, que esta perspectiva obscura do ensino no Brasil, no passado, foi uma realidade para mim. Como um "bom aluno" da educação pública brasileira, sou um leitor tardio, e literatura, nunca tinha sido o meu forte. E aqui, confesso o meu profundo arrependimento por isso, pois ainda não li Camões, não li Fernando Pessoa, mas começo a redenção de minha negligência passada, falando das minhas percepções sobre um dos autores portugueses que li este ano: o, até então, único Prêmio Nobel de Literatura da língua portuguesa: José Saramago.


    O filho de criador de porcos que se tornou Laureado:

    A história que vou lhes contar é de um mito, que, de palavra em palavra, forjou seu fado, o seu destino em verdade. A história não se faz mistério à ninguém, mas posso crer que é de muitos, desconhecida. Esta minha tentativa, simples, jamais vai remeter a um estilo literário que somente aos gênios compete. Faço-a simplesmente ao meu modo, mas quem sabe possa ser, até, interessante...

    Era uma vez um rapagote, nascido no campo e longe da cidade. Seus pais e avós criavam porcos em uma pequena vila, ou freguesia portuguesa, como queiram. A gana de trabalho e a obrigação de levar o sustento à família, converteu-se em migração: do campo a cidade. Mas o campo e as histórias dos velhos sábios interioranos, nunca abandonaram o rapagote que crescia entre capital Lisboa e a aldeia de Azinhaga.

    Herdou, olimpicamente, de seu pai, apenas o nome: José de Sousa. Por conveniência do bêbado tabelião que o registrou, recebeu o sobrenome Saramago. A planta de folhas picantes, o saramago, é espontânea num Portugal de campos d'ouros e vindouros. É resistente, sejam em campos cultivados, terrenos incultos ou pequenas searas. Mesmo considerada uma “erva-daninha” era o apelido do pai do rapagote. E do rapagote, para sempre sua marca ficou.

    Sua alfabetização, feita de pés descalços, literalmente, carecia de referências. Outrora, diria o rapagote: não tinha sequer um livro em casa. Mas as palavras, mesmo assim, foram de encontro ao gajo. De jornal em jornal, seu pai trazia ao lar, paulatinamente, o adubo que iria fomentar o gérmen do saber e da curiosidade do rapagote pelo o mundo inteiro.

    Anos mais tarde, o rapagote se tornaria homem feito. Mal passaria por sua cabeça que um dia, de fato, trabalharia nas fábricas de notícias, que tanto habitaram seu imaginário de menino. Anos mais tarde, o homem se tornaria forjado na secura de um realismo cético e conciso. E já forjado, teve de forjar ferro para sobreviver. Se fez serralheiro de ofício. Já era casado com a jovem Ilda Reis – se casou em 1944 e com quem permaneceu até 1970 – e pai – de Violante dos Reis Saramago. Ou seja, tinha família e tinha de ganhar o pão. Não chegara a faculdade, não tinha recursos. Mas isso, pouco lhe fez falta na vida.


    Divulgação - FJS

    Rígido de costumes, como qualquer outro trabalhador incansável que sempre busca melhorar, o jovem homem com sobrenome de planta provou da vida seus amores, seus dissabores, seus prazeres e suas mazelas. Os jovens de 1940 tinham uma vantagem sobre os de agora: não haviam PlayStations, nem TV, nem internet. Mas, o homem queria o saber. As palavras lhe seduziam. Para o homem, Saramago de batismo, a sensação que se tinha com um livro na mão era a de se ter tudo!

    E foi na sala de leitura do Palácio das Galveias, uma das bibliotecas públicas da cidade luz portuguesa, o agora metalúrgico Saramago, desbravava uma especie de ilha desconhecida, onde se tem de abrir caminhos próprios, sem referências. Não haviam guias para sua imersão literária. Lia tudo: o que sabia e o que não sabia. E foi daí que o homem Saramago passou a exercitar sua escrita, dedicando seus primeiros poemas à sua primeira esposa.

    Era, de fato, um legítimo escorpiano. Teimoso e polivalente, teve diversas profissões: desenhista, funcionário da saúde e da previdência social, tradutor, editor, jornalista. Tratou de publicar seu primeiro livro, um romance, "Terra do Pecado", em 1947. O título do livro sempre foi contestado pelo autor, pois originalmente se chamaria "A Viúva". Mas, por sugestão de seus editores à época, cedeu por alterar este pormenor.

    Depois de "Terra do Pecado", o escritor Saramago apresentou ao seu editor o livro "Clarabóia" que, depois de rejeitado, permaneceu inédito até 2011. Persistiu nos esforços literários, contudo, tendo estado um bom tempo sem publicar (até 1966).

    Por mais de uma década, o homem Saramago exerceu funções de direção literária e de produção numa editora. Colaborou como crítico literário na revista portuguesa Seara Nova. Autointitulado ateu e filiado ao Partido Comunista Português desde 1969, fez parte também da redação do jornal Diário de Lisboa, onde foi comentarista político, tendo ainda coordenado, por pouco mais de um ano, o suplemento cultural da editoração.

    Viveu, entre 1970 e 1986 com a escritora Isabel da Nóbrega. Entre Abril e Novembro de 1975 foi diretor-adjunto do jornal português Diário de Notícias, o principal jornal português. Por conta do rigor de suas opiniões, sua ideologia política (acreditava na instauração de regime socialista recorrendo à força das armas) em plena Revolução dos Cravos e de sua metodologia de trabalho, perdeu espaço como jornalista. A partir de 1976 passou a viver exclusivamente do seu trabalho literário, primeiro como tradutor, depois como autor.

    Pertenceu à primeira direção da Associação Portuguesa de Escritores e foi, de 1985 a 1994, presidente da Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Autores.

    À medida que ia envelhecendo, o mundo e a sociedade de seu tempo lhe mostravam nuances que a sagacidade Saramaguiana sabia definir de maneira única. Suas convicções dão conta de um projeto fracassado de uma humanidade que não deu certo, que jamais dará certo, mas que mesmo assim, não deixa de se propor à busca do progresso e da melhoria contínua de suas infinitas deficiências.

    Sua vida se confunde com os enredos de suas obras: uma frieza aguda, lucidez como estado de espírito e um humor humano, sensato, austero e altivo que é capaz de captar, com total sobriedade, a essência íntima dos indivíduos.

    Certa feita, um nobre amigo colombiano, também contador de história, chamado García Marquez, decretou:

    "É muito difícil ler todos os livros de Saramago. Porque sua sede de expressão e seu vasto conhecimento o faz escrever vários títulos em pouquíssimo tempo. E isso é o mais extraordinário deste escritor tardio. Ele deslanchou num momento em que os escritores já estão terminando de escrever, todavia ele continua escrevendo como se tivesse 18 anos." - Gabriel Gracía Marquez

    Mas, quem nesta vida pode entender os caprichos de sua sorte, que estão por aí, sempre a confrontar nossas convicções ? Aos 63 anos, Saramago viveria o que definiu como segunda vida, com uma fã, que lhe era 27 anos mais jovem.

    As palavras de Saramago foram de encontro a espanhola Pilar del Rio. Ao passear em Sevilha, entrou numa livraria e leu meia dúzia de páginas de "Memorial do Convento". Não sabia quem era Saramago, nunca tinha ouvido falar, mas ficou tão impressionada que comprou todos os seus livros. Devorou "O Ano da Morte de Ricardo Reis" noite adentro e sentiu necessidade de agradecer ao autor que lhe tinha proporcionado aquela viagem literária.

    A história de amor, virou um documentário em 2010. José e Pilar - Tudo pode ser contado de outra maneira. Um filme de Miguel Gonçalves Mendes, cujo está disponível no Youtube:



    A mulher a quem Saramago se confiou, desde 1986, foi de fato o seu pilar. Foi, além de escritora e jornalista, tradutora para a língua espanhola de vários romances seus. A pena do velho escriba lusitano resplandecia ferina e viçosa, combativa e denunciadora, e com ela, Saramago desafiou a Santa Igreja, os Papas e todos os santos da terra. Nada lhe escapava: de Mario Soares a Lula, de Bento XVI a Ariel Sharon, de Jesus a Deus. Se fez crítico feroz da sociedade contemporânea, mas era inconteste em definir que sua arte não ajudaria a mudar o mundo.

    Curiosamente, à medida que o número de seus leitores aumentava, o escritor se tornava mestre. Tomou para si um método de escrita singular, deixando muito da pontuação por conta do leitor. O reconhecimento ganhava o mundo. O talento ou o acaso não escolhem, para manifestar-se, nem dias nem lugares. Peças teatrais de sua autoria ganhavam os palcos no Brasil e na Itália, com enorme sucesso.

    E já mestre que se tornara, em 1991 publicou um romance ficcional da história da vida de Jesus, de uma maneira moderna, humana e crítica da religião."O Evangelho Segundo Jesus Cristo" foi seu livro mais polêmico, que rendeu censura em um Portugal já redemocratizado e impedimento de disputar o Prêmio Europeu. A mágoa foi o bastante para que em 1993, resolvesse se mudar com a mulher para a vulcânica e inóspita Ilha de Lanzarote, no arquipélago das Canárias (Espanha).

    “O filho de José e Maria nasceu como todos os filhos dos homens, sujo do sangue de sua mãe, viscoso das suas mucosidades e sofrendo em silêncio. Chorou porque o fizeram chorar, e chorará por esse mesmo e único motivo.” - Trecho de 'O Evangelho Segundo Jesus Cristo'. 

    E foi em 1995 que recebeu a maior honraria literária da língua portuguesa:

    "A obra de Saramago é muito bela e inovadora, recriando, por um lado, o prestígio da narrativa ficcionada e criando, por outro, um modelo de discurso aberto, em relação íntima com o leitor, com ressonância mágica, mítica e de expressão universal." 

    Ganhava ali, com essas palavras do juri, o Prêmio Camões.

    Mas é muito provável que o rapagote, que se transformou em mito e em mestre da literatura, não tivesse ganhado a sua fama mundial sem o Prêmio Nobel que conquistou, merecidamente, em 1998. E ele honrou o prêmio, sendo o único da língua portuguesa a ganhá-lo.

    Divulgação - FJS

    "O homem mais sábio que já conheci em toda minha vida, não sabia ler e nem escrever. As 4 da madrugada, quando a promessa de um novo dia começava em terras de esperança, saía para o campo, levando ao pasto a meia dúzia de porcas, cuja a fertilidade alimentava a família. Chamavam-se, Jerônimo e Josefa, esses avós. Gente capaz de dormir com porcos, como se fosse seus próprios filhos. Gente que tinha pena de ir-se da vida, porque o mundo era bonito. Gente, como meu avô, pastor e contador de histórias, que ao pressentir a morte, tratou de se despedir das árvores de seu quintal, pois sabia que não mais as tornaria a ver."
    - Discurso de Saramago no Nobel - Estocolmo, 1998. 


    Um Brinde à sua Literatura:


    Muito se explana sobre os livros de Saramago. Em suma, sua maior influência na literatura foi a do ícone do romantismo português, Almeida Garrett, como o próprio confessava. Várias vezes, seu estilo é erroneamente é associado a um realismo metafórico (como Kafka e Jorge L. Borges). Seus textos provém de uma tendencia que não é dispersiva, e sim na narração que avança de maneira expansiva e torta (historias e historietas de gancho).

    Achava dispensável determinadas pontuações, assim com há no Hebraico, por exemplo. Tratou de iniciar essa ruptura gramatical a partir do título: "Levantado do Chão". Tinha obsessão pelo discurso, sem convenções redatoriais ou quaisquer subterfúgios linguísticos que não fosse as palavras.

    Por mais estranho que pareça ler um texto sem aspas, travessões e, quase, sem parágrafos, é um erro dizer que Saramago não usa pontuação em seus livros. A sacada do autor faz com que nós mesmos tratemos de pontuar nossa leitura. E faz ainda com que devoremos seu livro, sem medida.

    Nestas sugestões, vamos tratar de obras de temas especulativos, onde é proposta uma situação extrema e se expõe o que aconteceria. Acredito que esta pode ser uma boa porta de entrada para o universo do autor lusitano, que é muito mais amplo.





    Título: As Intermitências da Morte
     
    Capa: Hélio de Almeida

    Autor: José Saramago
    Editora: Companhia das Letras

    ISBN: 9788535907254
    Ano: 2005
    Edição: 1
    Número de páginas: 208
    Acabamento: Brochura
    Dimensões: 14 cm x 21 cm x 1 cm
    Formato:  Médio
    Assunto: Romance / Literatura Estrangeira

    Peso: 0,255 Kg
    Idioma: Português





    A situação se resume na primeira frase do livro: “No dia seguinte ninguém morreu”. Apesar disso parecer o sonho tão almejado pela humanidade, ser imortal pode ser algo terrível para a sociedade como a conhecemos.

    Mas, da fatalidade em si, a morte também tem seus caprichos. Nesta obra, Saramago personifica a morte, um esqueleto feminino que se revolta por ser detestada pela humanidade, e resolve suspender suas atividades.

    Podemos dizer que a obra se divide em três partes: os fatos, um meio termo para as consequências e a necessidade que esta sente (feminina como se apresenta) de ser amada.

    E o que no início provoca um verdadeiro clamor patriótico logo se revela um grave problema. Idosos e doentes agonizam em seus leitos sem poder 'bater as botas'. Os empresários do serviço funerário quebram, 'desprovidos da sua matéria-prima'. A população aumenta demasiadamente. O governo não sabe o que fazer, enquanto igreja se desconsola, porque 'sem morte não há ressurreição, e sem ressurreição não há igreja'.

    Um por um, ficam expostos os vínculos que ligam o Estado, as religiões e o cotidiano à mortalidade comum de todos os cidadãos. Mas, na sua intermitência, a morte pode a qualquer momento retomar os afazeres de sempre. Mas o que levaria ela, A Morte, reconsiderar ? Se os brutos também amam, porquê não A Morte? A sua transformação em algo mais "humano" se sucede de forma comovente.

    Com certeza é mais que adequado apelidar esta obra de Saramago de "humor negro", onde reina a ironia refinada, da qual ele era mestre, como poucos podem afirmar ser. Não há margem para "poréns", pois mostra o melhor livro do autor que li até hoje!



  • Recomendando, Nota:



  • Onde Comprar?


    http://www.saraiva.com.br/as-intermitencias-da-morte-187525.html


    ***


    Título: Ensaio Sobre a Cegueira

    Capa: Hélio de Almeida

    Autor: José Saramago
    Editora: Companhia das Letras

    ISBN: 9788571644953
    Ano: 1995
    Edição: 1
    Número de páginas: 312
    Acabamento: Brochura
    Dimensões: 14 cm x 21 cm x 1,8 cm
    Formato:  Médio
    Assunto: Romance / Literatura Estrangeira

    Peso: 0,388 Kg
    Idioma: Português





    Repentinamente, um motorista fica cego. E uma inédita e inexplicável epidemia de cegueira atinge e se espalha pela cidade e pelo país. Mas não há trevas, mas sim uma “cegueira branca”, já que as pessoas atingidas apenas passam a ver uma superfície leitosa. Está gerado aí, o caos e o colapso do sistema como o conhecemos.

    À medida que os afetados são colocados em quarentena e os serviços oferecidos pelo Estado começam a falhar. As pessoas passam a lutar por suas necessidades básicas, expondo seus instintos primários. Nesta situação a única pessoa que ainda consegue enxergar é a mulher de um médico, que juntamente com um grupo de internos tenta encontrar a humanidade perdida. Uma coisa interessante da história é que os personagens da não tem nomes.

    Como a esposa do médico não é afetada pela doença, ela finge estar cega para ir junto com seu marido, com o intuito de poder cuidar da sua saúde e uma vez isolados ela se sujeita a tratar dele como se fosse uma criança. Mas com o desenvolvimento da trama, ela se torna uma espécie de Joana D'Arc, imbuída de sustentar a ideia de que a vida é possível, mesmo em tão terríveis condições.

    Mas o foco da trama não esta em mostrar a causa da doença ou sua cura, mas sim o desmoronar completo da sociedade que, perde tudo aquilo que considera civilizado. E certamente a arte imita a vida real e vise versa, porque são vários os episódios contemporâneos que nos remetem a isso: tragédias naturais, blackouts, guerras, etc. Tudo isso nos traz a mente imagens de selvageria, saques, insalubridade, fome e luta pela sobrevivência.

    Sem dúvida, além de uma das obras primas de Saramago, o livro é impressionantemente terrível e nos faz sofrer de forma intensa e aflitiva. Mas nem tudo na história é tortura, pânico, violência sexual e ingerência político-social. É um livro brutal sim, mas é também um manifesto contra a falta de misericórdia e a covardia que pairam sobre todos os seres humanos da Terra.


    Fernando Meirelles e José Saramago promovem o filme "Blindness", de 2008. Uma co-produção Brasil, Canadá e Japão. - Susana Vera/REUTERS

    Saramago sempre foi avesso a adaptações cinematográficas de suas obras. Mas, em 2008, uma adaptação de Ensaio sobre a Cegueira foi lançada. Dirigida pelo brasileiro Fernando Meirelles, o filme obteve críticas mistas e até recebeu uma indicação a Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes. No entanto, o longa-metragem lhe agradou muito a Saramago, que o recebeu extremamente emocionado.

    Tenho certeza, após a leitura desta magnifica obra literária, de que há livros necessários para a manutenção da vida. Na verdade, esta história já deveria vir gravada na mente de todas as pessoas desse mundo. É certo que viveríamos em um mundo melhor!



  • Recomendando, Nota:



  • Onde Comprar?


    http://www.saraiva.com.br/ensaio-sobre-a-cegueira-347390.html


    ***

    Título: Ensaio Sobre a Lucidez

    Capa: Hélio de Almeida

    Autor: José Saramago
    Editora: Companhia das Letras

    ISBN: 9788535904802
    Ano: 2004
    Edição: 1
    Número de páginas: 328
    Acabamento: Brochura
    Dimensões: 14 cm x 21 cm x 1,8 cm
    Formato:  Médio
    Assunto: Romance / Literatura Estrangeira

    Peso: 0,409 Kg
    Idioma: Português





    Para quem já tenha lido outros livros de Saramago, esta obra denota uma certa superficialidade na exploração do tema e na própria elaboração da narrativa, que pode chegar a não entusiasmar da mesma forma, até por ser um tema político-social.


    Apesar de não se tratar de uma sequência, é inevitável a comparação com o título anterior, o Ensaio Sobre a Cegueira. Alguns personagens da saga anterior, reaparecem nesta nova epopeia. Mas a situação, desta vez, é um pouco mais delicada e mais realista. Digo realista, pois muitos de nós já ouvimos os dizeres: 'não deveríamos votar em ninguém!'

    Mas o que resultaria disso?

    Deste fato e desta questão, Saramago propõem que num país indeterminado (mas que muito se assemelha a Portugal) com toda a normalidade, está ocorrendo um processo eleitoral. No final do dia, contados os votos, verifica-se que na capital cerca de 70% dos eleitores votaram branco. Repetidas as eleições no domingo seguinte, o número de votos brancos ultrapassa os 80%.

    Daí, constitui-se uma representação realista e dramática da grande questão das democracias no mundo de hoje: serão elas verdadeiramente democráticas? Representarão nelas, o povo, uma função essencial, e não apenas meramente formal?

    Receoso e desconfiado, o governo local, em vez de se interrogar sobre os motivos que terão os eleitores para votar branco, decide desencadear uma grande operação militar de guerra para descobrir qual o foco infeccioso que está a minar a sua base política e eliminá-lo. E é assim que se desencadeia um violento processo de ruptura entre o poder político e o povo, cujos interesses aquele deve supostamente servir e não afrontar.

    É um livro que recomendo a quem já tenha lido outros livros de Saramago, como complemento à sua obra. Mas o grande feito desta leitura é mostrar ao leitor a força que o Estado exerce sobre seu povo. Independente da nação, Saramago propõe uma reflexão atemporal sobre o principal interesse dos governantes: sua manutenção no poder a qualquer custo.



  • Recomendando, Nota:


  • Onde Comprar?


    http://www.saraiva.com.br/ensaio-sobre-a-lucidez-148105.html


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    Saramago era um homem lógico, dizia que a morte é simplesmente a diferença entre o estar aqui e já não mais estar. Deixou uma extraordinária contribuição para a literatura mundial e para a valorização da língua portuguesa, além de ter representado, com sua conduta pessoal, um exemplo de atuação comprometida em favor de um mundo mais justo e de suas convicções. Sua literatura e suas posições políticas produzem ideias e reflexões contra o individualismo e a prática do capitalismo selvagem.

    O lusitano reúne em sua obra o pensamento social e humanista que o caracteriza não só como um dos mais reconhecidos romancistas da língua portuguesa, mas também como um dos pensadores mais críticos da globalização, do mercado e das práticas que marcam homem no mundo atual;

    Quase imortal, José Saramago foi-se embora enfrentando a paradoxal radicalidade da vida: a morte – angústia de quem vive, fim de quem ama, diria Vinícius de Morais. Sua mulher, agraciada com muitas dedicatórias em suas últimas obras, permaneceu ao lado de José Saramago até a sua morte, em 2010 e comanda, atualmente, a Fundação José Saramago que tem como objetivos a defesa e difusão da Declaração Universal dos Direitos Humanos, a defesa do meio ambiente e a promoção da cultura em Portugal e em todo o mundo.

    "Tenho a reputação de ser um homem duro, seco, quase um cara de pau ou vaidoso. Mas a verdade é que sou um sentimental." - José Saramago - *1922 / +2010



    E chegamos ao fim de nossa última dica do ano.
    Esperamos que tenham gostado!
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    Aqui, agradecemos a todo o público que tem visitado nosso blog. Meus sinceros respeitos a vocês.
    Que 2017 seja um ano bem melhor para todos!

    Muita paz e boas leituras. ✌

    Até a próxima, pessoal!

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