sábado, 31 de dezembro de 2016

Dicas de Leitura #010 - Um Bocadinho de Saramago


Portugal é a pátria-mãe que deu origem a quase tudo que se desenvolveu no Brasil. Inclusive, um dos maiores patrimônios de nossa gente, é, efetivamente, a língua portuguesa. E muito me entristece chegar ao fim de 2016, redigindo este último artigo do ano, com a constatação de mais uma negligencia de nossos governantes acerca da exclusão da obrigatoriedade do ensino de literatura portuguesa nas escolas.

Mas, convenhamos: em raríssimos casos, essa disciplina era ensinada. Então, regulamenta-se apenas o que já era praxe: no Brasil, a última coisa que se preza, em grande parte das escolas, é o ensino em si.

Hei de confessar, neste último texto de 2016, que esta perspectiva obscura do ensino no Brasil, no passado, foi uma realidade para mim. Como um "bom aluno" da educação pública brasileira, sou um leitor tardio, e literatura, nunca tinha sido o meu forte. E aqui, confesso o meu profundo arrependimento por isso, pois ainda não li Camões, não li Fernando Pessoa, mas começo a redenção de minha negligência passada, falando das minhas percepções sobre um dos autores portugueses que li este ano: o, até então, único Prêmio Nobel de Literatura da língua portuguesa: José Saramago.


O filho de criador de porcos que se tornou Laureado:

A história que vou lhes contar é de um mito, que, de palavra em palavra, forjou seu fado, o seu destino em verdade. A história não se faz mistério à ninguém, mas posso crer que é de muitos, desconhecida. Esta minha tentativa, simples, jamais vai remeter a um estilo literário que somente aos gênios compete. Faço-a simplesmente ao meu modo, mas quem sabe possa ser, até, interessante...

Era uma vez um rapagote, nascido no campo e longe da cidade. Seus pais e avós criavam porcos em uma pequena vila, ou freguesia portuguesa, como queiram. A gana de trabalho e a obrigação de levar o sustento à família, converteu-se em migração: do campo a cidade. Mas o campo e as histórias dos velhos sábios interioranos, nunca abandonaram o rapagote que crescia entre capital Lisboa e a aldeia de Azinhaga.

Herdou, olimpicamente, de seu pai, apenas o nome: José de Sousa. Por conveniência do bêbado tabelião que o registrou, recebeu o sobrenome Saramago. A planta de folhas picantes, o saramago, é espontânea num Portugal de campos d'ouros e vindouros. É resistente, sejam em campos cultivados, terrenos incultos ou pequenas searas. Mesmo considerada uma “erva-daninha” era o apelido do pai do rapagote. E do rapagote, para sempre sua marca ficou.

Sua alfabetização, feita de pés descalços, literalmente, carecia de referências. Outrora, diria o rapagote: não tinha sequer um livro em casa. Mas as palavras, mesmo assim, foram de encontro ao gajo. De jornal em jornal, seu pai trazia ao lar, paulatinamente, o adubo que iria fomentar o gérmen do saber e da curiosidade do rapagote pelo o mundo inteiro.

Anos mais tarde, o rapagote se tornaria homem feito. Mal passaria por sua cabeça que um dia, de fato, trabalharia nas fábricas de notícias, que tanto habitaram seu imaginário de menino. Anos mais tarde, o homem se tornaria forjado na secura de um realismo cético e conciso. E já forjado, teve de forjar ferro para sobreviver. Se fez serralheiro de ofício. Já era casado com a jovem Ilda Reis – se casou em 1944 e com quem permaneceu até 1970 – e pai – de Violante dos Reis Saramago. Ou seja, tinha família e tinha de ganhar o pão. Não chegara a faculdade, não tinha recursos. Mas isso, pouco lhe fez falta na vida.


Divulgação - FJS

Rígido de costumes, como qualquer outro trabalhador incansável que sempre busca melhorar, o jovem homem com sobrenome de planta provou da vida seus amores, seus dissabores, seus prazeres e suas mazelas. Os jovens de 1940 tinham uma vantagem sobre os de agora: não haviam PlayStations, nem TV, nem internet. Mas, o homem queria o saber. As palavras lhe seduziam. Para o homem, Saramago de batismo, a sensação que se tinha com um livro na mão era a de se ter tudo!

E foi na sala de leitura do Palácio das Galveias, uma das bibliotecas públicas da cidade luz portuguesa, o agora metalúrgico Saramago, desbravava uma especie de ilha desconhecida, onde se tem de abrir caminhos próprios, sem referências. Não haviam guias para sua imersão literária. Lia tudo: o que sabia e o que não sabia. E foi daí que o homem Saramago passou a exercitar sua escrita, dedicando seus primeiros poemas à sua primeira esposa.

Era, de fato, um legítimo escorpiano. Teimoso e polivalente, teve diversas profissões: desenhista, funcionário da saúde e da previdência social, tradutor, editor, jornalista. Tratou de publicar seu primeiro livro, um romance, "Terra do Pecado", em 1947. O título do livro sempre foi contestado pelo autor, pois originalmente se chamaria "A Viúva". Mas, por sugestão de seus editores à época, cedeu por alterar este pormenor.

Depois de "Terra do Pecado", o escritor Saramago apresentou ao seu editor o livro "Clarabóia" que, depois de rejeitado, permaneceu inédito até 2011. Persistiu nos esforços literários, contudo, tendo estado um bom tempo sem publicar (até 1966).

Por mais de uma década, o homem Saramago exerceu funções de direção literária e de produção numa editora. Colaborou como crítico literário na revista portuguesa Seara Nova. Autointitulado ateu e filiado ao Partido Comunista Português desde 1969, fez parte também da redação do jornal Diário de Lisboa, onde foi comentarista político, tendo ainda coordenado, por pouco mais de um ano, o suplemento cultural da editoração.

Viveu, entre 1970 e 1986 com a escritora Isabel da Nóbrega. Entre Abril e Novembro de 1975 foi diretor-adjunto do jornal português Diário de Notícias, o principal jornal português. Por conta do rigor de suas opiniões, sua ideologia política (acreditava na instauração de regime socialista recorrendo à força das armas) em plena Revolução dos Cravos e de sua metodologia de trabalho, perdeu espaço como jornalista. A partir de 1976 passou a viver exclusivamente do seu trabalho literário, primeiro como tradutor, depois como autor.

Pertenceu à primeira direção da Associação Portuguesa de Escritores e foi, de 1985 a 1994, presidente da Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Autores.

À medida que ia envelhecendo, o mundo e a sociedade de seu tempo lhe mostravam nuances que a sagacidade Saramaguiana sabia definir de maneira única. Suas convicções dão conta de um projeto fracassado de uma humanidade que não deu certo, que jamais dará certo, mas que mesmo assim, não deixa de se propor à busca do progresso e da melhoria contínua de suas infinitas deficiências.

Sua vida se confunde com os enredos de suas obras: uma frieza aguda, lucidez como estado de espírito e um humor humano, sensato, austero e altivo que é capaz de captar, com total sobriedade, a essência íntima dos indivíduos.

Certa feita, um nobre amigo colombiano, também contador de história, chamado García Marquez, decretou:

"É muito difícil ler todos os livros de Saramago. Porque sua sede de expressão e seu vasto conhecimento o faz escrever vários títulos em pouquíssimo tempo. E isso é o mais extraordinário deste escritor tardio. Ele deslanchou num momento em que os escritores já estão terminando de escrever, todavia ele continua escrevendo como se tivesse 18 anos." - Gabriel Gracía Marquez

Mas, quem nesta vida pode entender os caprichos de sua sorte, que estão por aí, sempre a confrontar nossas convicções ? Aos 63 anos, Saramago viveria o que definiu como segunda vida, com uma fã, que lhe era 27 anos mais jovem.

As palavras de Saramago foram de encontro a espanhola Pilar del Rio. Ao passear em Sevilha, entrou numa livraria e leu meia dúzia de páginas de "Memorial do Convento". Não sabia quem era Saramago, nunca tinha ouvido falar, mas ficou tão impressionada que comprou todos os seus livros. Devorou "O Ano da Morte de Ricardo Reis" noite adentro e sentiu necessidade de agradecer ao autor que lhe tinha proporcionado aquela viagem literária.

A história de amor, virou um documentário em 2010. José e Pilar - Tudo pode ser contado de outra maneira. Um filme de Miguel Gonçalves Mendes, cujo está disponível no Youtube:



A mulher a quem Saramago se confiou, desde 1986, foi de fato o seu pilar. Foi, além de escritora e jornalista, tradutora para a língua espanhola de vários romances seus. A pena do velho escriba lusitano resplandecia ferina e viçosa, combativa e denunciadora, e com ela, Saramago desafiou a Santa Igreja, os Papas e todos os santos da terra. Nada lhe escapava: de Mario Soares a Lula, de Bento XVI a Ariel Sharon, de Jesus a Deus. Se fez crítico feroz da sociedade contemporânea, mas era inconteste em definir que sua arte não ajudaria a mudar o mundo.

Curiosamente, à medida que o número de seus leitores aumentava, o escritor se tornava mestre. Tomou para si um método de escrita singular, deixando muito da pontuação por conta do leitor. O reconhecimento ganhava o mundo. O talento ou o acaso não escolhem, para manifestar-se, nem dias nem lugares. Peças teatrais de sua autoria ganhavam os palcos no Brasil e na Itália, com enorme sucesso.

E já mestre que se tornara, em 1991 publicou um romance ficcional da história da vida de Jesus, de uma maneira moderna, humana e crítica da religião."O Evangelho Segundo Jesus Cristo" foi seu livro mais polêmico, que rendeu censura em um Portugal já redemocratizado e impedimento de disputar o Prêmio Europeu. A mágoa foi o bastante para que em 1993, resolvesse se mudar com a mulher para a vulcânica e inóspita Ilha de Lanzarote, no arquipélago das Canárias (Espanha).

“O filho de José e Maria nasceu como todos os filhos dos homens, sujo do sangue de sua mãe, viscoso das suas mucosidades e sofrendo em silêncio. Chorou porque o fizeram chorar, e chorará por esse mesmo e único motivo.” - Trecho de 'O Evangelho Segundo Jesus Cristo'. 

E foi em 1995 que recebeu a maior honraria literária da língua portuguesa:

"A obra de Saramago é muito bela e inovadora, recriando, por um lado, o prestígio da narrativa ficcionada e criando, por outro, um modelo de discurso aberto, em relação íntima com o leitor, com ressonância mágica, mítica e de expressão universal." 

Ganhava ali, com essas palavras do juri, o Prêmio Camões.

Mas é muito provável que o rapagote, que se transformou em mito e em mestre da literatura, não tivesse ganhado a sua fama mundial sem o Prêmio Nobel que conquistou, merecidamente, em 1998. E ele honrou o prêmio, sendo o único da língua portuguesa a ganhá-lo.

Divulgação - FJS

"O homem mais sábio que já conheci em toda minha vida, não sabia ler e nem escrever. As 4 da madrugada, quando a promessa de um novo dia começava em terras de esperança, saía para o campo, levando ao pasto a meia dúzia de porcas, cuja a fertilidade alimentava a família. Chamavam-se, Jerônimo e Josefa, esses avós. Gente capaz de dormir com porcos, como se fosse seus próprios filhos. Gente que tinha pena de ir-se da vida, porque o mundo era bonito. Gente, como meu avô, pastor e contador de histórias, que ao pressentir a morte, tratou de se despedir das árvores de seu quintal, pois sabia que não mais as tornaria a ver."
- Discurso de Saramago no Nobel - Estocolmo, 1998. 


Um Brinde à sua Literatura:


Muito se explana sobre os livros de Saramago. Em suma, sua maior influência na literatura foi a do ícone do romantismo português, Almeida Garrett, como o próprio confessava. Várias vezes, seu estilo é erroneamente é associado a um realismo metafórico (como Kafka e Jorge L. Borges). Seus textos provém de uma tendencia que não é dispersiva, e sim na narração que avança de maneira expansiva e torta (historias e historietas de gancho).

Achava dispensável determinadas pontuações, assim com há no Hebraico, por exemplo. Tratou de iniciar essa ruptura gramatical a partir do título: "Levantado do Chão". Tinha obsessão pelo discurso, sem convenções redatoriais ou quaisquer subterfúgios linguísticos que não fosse as palavras.

Por mais estranho que pareça ler um texto sem aspas, travessões e, quase, sem parágrafos, é um erro dizer que Saramago não usa pontuação em seus livros. A sacada do autor faz com que nós mesmos tratemos de pontuar nossa leitura. E faz ainda com que devoremos seu livro, sem medida.

Nestas sugestões, vamos tratar de obras de temas especulativos, onde é proposta uma situação extrema e se expõe o que aconteceria. Acredito que esta pode ser uma boa porta de entrada para o universo do autor lusitano, que é muito mais amplo.





Título: As Intermitências da Morte
 
Capa: Hélio de Almeida

Autor: José Saramago
Editora: Companhia das Letras

ISBN: 9788535907254
Ano: 2005
Edição: 1
Número de páginas: 208
Acabamento: Brochura
Dimensões: 14 cm x 21 cm x 1 cm
Formato:  Médio
Assunto: Romance / Literatura Estrangeira

Peso: 0,255 Kg
Idioma: Português





A situação se resume na primeira frase do livro: “No dia seguinte ninguém morreu”. Apesar disso parecer o sonho tão almejado pela humanidade, ser imortal pode ser algo terrível para a sociedade como a conhecemos.

Mas, da fatalidade em si, a morte também tem seus caprichos. Nesta obra, Saramago personifica a morte, um esqueleto feminino que se revolta por ser detestada pela humanidade, e resolve suspender suas atividades.

Podemos dizer que a obra se divide em três partes: os fatos, um meio termo para as consequências e a necessidade que esta sente (feminina como se apresenta) de ser amada.

E o que no início provoca um verdadeiro clamor patriótico logo se revela um grave problema. Idosos e doentes agonizam em seus leitos sem poder 'bater as botas'. Os empresários do serviço funerário quebram, 'desprovidos da sua matéria-prima'. A população aumenta demasiadamente. O governo não sabe o que fazer, enquanto igreja se desconsola, porque 'sem morte não há ressurreição, e sem ressurreição não há igreja'.

Um por um, ficam expostos os vínculos que ligam o Estado, as religiões e o cotidiano à mortalidade comum de todos os cidadãos. Mas, na sua intermitência, a morte pode a qualquer momento retomar os afazeres de sempre. Mas o que levaria ela, A Morte, reconsiderar ? Se os brutos também amam, porquê não A Morte? A sua transformação em algo mais "humano" se sucede de forma comovente.

Com certeza é mais que adequado apelidar esta obra de Saramago de "humor negro", onde reina a ironia refinada, da qual ele era mestre, como poucos podem afirmar ser. Não há margem para "poréns", pois mostra o melhor livro do autor que li até hoje!



  • Recomendando, Nota:



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    http://www.saraiva.com.br/as-intermitencias-da-morte-187525.html


    ***


    Título: Ensaio Sobre a Cegueira

    Capa: Hélio de Almeida

    Autor: José Saramago
    Editora: Companhia das Letras

    ISBN: 9788571644953
    Ano: 1995
    Edição: 1
    Número de páginas: 312
    Acabamento: Brochura
    Dimensões: 14 cm x 21 cm x 1,8 cm
    Formato:  Médio
    Assunto: Romance / Literatura Estrangeira

    Peso: 0,388 Kg
    Idioma: Português





    Repentinamente, um motorista fica cego. E uma inédita e inexplicável epidemia de cegueira atinge e se espalha pela cidade e pelo país. Mas não há trevas, mas sim uma “cegueira branca”, já que as pessoas atingidas apenas passam a ver uma superfície leitosa. Está gerado aí, o caos e o colapso do sistema como o conhecemos.

    À medida que os afetados são colocados em quarentena e os serviços oferecidos pelo Estado começam a falhar. As pessoas passam a lutar por suas necessidades básicas, expondo seus instintos primários. Nesta situação a única pessoa que ainda consegue enxergar é a mulher de um médico, que juntamente com um grupo de internos tenta encontrar a humanidade perdida. Uma coisa interessante da história é que os personagens da não tem nomes.

    Como a esposa do médico não é afetada pela doença, ela finge estar cega para ir junto com seu marido, com o intuito de poder cuidar da sua saúde e uma vez isolados ela se sujeita a tratar dele como se fosse uma criança. Mas com o desenvolvimento da trama, ela se torna uma espécie de Joana D'Arc, imbuída de sustentar a ideia de que a vida é possível, mesmo em tão terríveis condições.

    Mas o foco da trama não esta em mostrar a causa da doença ou sua cura, mas sim o desmoronar completo da sociedade que, perde tudo aquilo que considera civilizado. E certamente a arte imita a vida real e vise versa, porque são vários os episódios contemporâneos que nos remetem a isso: tragédias naturais, blackouts, guerras, etc. Tudo isso nos traz a mente imagens de selvageria, saques, insalubridade, fome e luta pela sobrevivência.

    Sem dúvida, além de uma das obras primas de Saramago, o livro é impressionantemente terrível e nos faz sofrer de forma intensa e aflitiva. Mas nem tudo na história é tortura, pânico, violência sexual e ingerência político-social. É um livro brutal sim, mas é também um manifesto contra a falta de misericórdia e a covardia que pairam sobre todos os seres humanos da Terra.


    Fernando Meirelles e José Saramago promovem o filme "Blindness", de 2008. Uma co-produção Brasil, Canadá e Japão. - Susana Vera/REUTERS

    Saramago sempre foi avesso a adaptações cinematográficas de suas obras. Mas, em 2008, uma adaptação de Ensaio sobre a Cegueira foi lançada. Dirigida pelo brasileiro Fernando Meirelles, o filme obteve críticas mistas e até recebeu uma indicação a Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes. No entanto, o longa-metragem lhe agradou muito a Saramago, que o recebeu extremamente emocionado.

    Tenho certeza, após a leitura desta magnifica obra literária, de que há livros necessários para a manutenção da vida. Na verdade, esta história já deveria vir gravada na mente de todas as pessoas desse mundo. É certo que viveríamos em um mundo melhor!



  • Recomendando, Nota:



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    http://www.saraiva.com.br/ensaio-sobre-a-cegueira-347390.html


    ***

    Título: Ensaio Sobre a Lucidez

    Capa: Hélio de Almeida

    Autor: José Saramago
    Editora: Companhia das Letras

    ISBN: 9788535904802
    Ano: 2004
    Edição: 1
    Número de páginas: 328
    Acabamento: Brochura
    Dimensões: 14 cm x 21 cm x 1,8 cm
    Formato:  Médio
    Assunto: Romance / Literatura Estrangeira

    Peso: 0,409 Kg
    Idioma: Português





    Para quem já tenha lido outros livros de Saramago, esta obra denota uma certa superficialidade na exploração do tema e na própria elaboração da narrativa, que pode chegar a não entusiasmar da mesma forma, até por ser um tema político-social.


    Apesar de não se tratar de uma sequência, é inevitável a comparação com o título anterior, o Ensaio Sobre a Cegueira. Alguns personagens da saga anterior, reaparecem nesta nova epopeia. Mas a situação, desta vez, é um pouco mais delicada e mais realista. Digo realista, pois muitos de nós já ouvimos os dizeres: 'não deveríamos votar em ninguém!'

    Mas o que resultaria disso?

    Deste fato e desta questão, Saramago propõem que num país indeterminado (mas que muito se assemelha a Portugal) com toda a normalidade, está ocorrendo um processo eleitoral. No final do dia, contados os votos, verifica-se que na capital cerca de 70% dos eleitores votaram branco. Repetidas as eleições no domingo seguinte, o número de votos brancos ultrapassa os 80%.

    Daí, constitui-se uma representação realista e dramática da grande questão das democracias no mundo de hoje: serão elas verdadeiramente democráticas? Representarão nelas, o povo, uma função essencial, e não apenas meramente formal?

    Receoso e desconfiado, o governo local, em vez de se interrogar sobre os motivos que terão os eleitores para votar branco, decide desencadear uma grande operação militar de guerra para descobrir qual o foco infeccioso que está a minar a sua base política e eliminá-lo. E é assim que se desencadeia um violento processo de ruptura entre o poder político e o povo, cujos interesses aquele deve supostamente servir e não afrontar.

    É um livro que recomendo a quem já tenha lido outros livros de Saramago, como complemento à sua obra. Mas o grande feito desta leitura é mostrar ao leitor a força que o Estado exerce sobre seu povo. Independente da nação, Saramago propõe uma reflexão atemporal sobre o principal interesse dos governantes: sua manutenção no poder a qualquer custo.



  • Recomendando, Nota:


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    http://www.saraiva.com.br/ensaio-sobre-a-lucidez-148105.html


    ***


    Saramago era um homem lógico, dizia que a morte é simplesmente a diferença entre o estar aqui e já não mais estar. Deixou uma extraordinária contribuição para a literatura mundial e para a valorização da língua portuguesa, além de ter representado, com sua conduta pessoal, um exemplo de atuação comprometida em favor de um mundo mais justo e de suas convicções. Sua literatura e suas posições políticas produzem ideias e reflexões contra o individualismo e a prática do capitalismo selvagem.

    O lusitano reúne em sua obra o pensamento social e humanista que o caracteriza não só como um dos mais reconhecidos romancistas da língua portuguesa, mas também como um dos pensadores mais críticos da globalização, do mercado e das práticas que marcam homem no mundo atual;

    Quase imortal, José Saramago foi-se embora enfrentando a paradoxal radicalidade da vida: a morte – angústia de quem vive, fim de quem ama, diria Vinícius de Morais. Sua mulher, agraciada com muitas dedicatórias em suas últimas obras, permaneceu ao lado de José Saramago até a sua morte, em 2010 e comanda, atualmente, a Fundação José Saramago que tem como objetivos a defesa e difusão da Declaração Universal dos Direitos Humanos, a defesa do meio ambiente e a promoção da cultura em Portugal e em todo o mundo.

    "Tenho a reputação de ser um homem duro, seco, quase um cara de pau ou vaidoso. Mas a verdade é que sou um sentimental." - José Saramago - *1922 / +2010



    E chegamos ao fim de nossa última dica do ano.
    Esperamos que tenham gostado!
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    Aqui, agradecemos a todo o público que tem visitado nosso blog. Meus sinceros respeitos a vocês.
    Que 2017 seja um ano bem melhor para todos!

    Muita paz e boas leituras. ✌

    Até a próxima, pessoal!

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