Por Diego Oliveira
E aí está! A primeira é pesada, quente, lânguida, úmida... Lenta. Vacila em não tombar para seu fiel destino. Face abaixo, a bordo ou ao lado, a gravidade, nela, age. E no seu fito, seu derradeiro caminho, descortina-se o acesso para decretar o destino da segunda, que já se forma no ventre fértil do olhar naufragado.
A segunda cairá, agora mais depressa. Não há ritmo marcado, como uma rígida coreografia de uma dança clássica. Displicente, a consciência atua apenas como maestro, como a indicar qual solista irá atacar.
E assim se faz: uma, duas, três... E cada qual, carrega consigo o peso de moribundas memórias, devaneios, culpas adormecidas, êxitos que se metamorfosearam em fracassos e até alguma felicidade, que só agora, vêm ao entendimento.
É certo dizer, na incerteza de vãs meditações, que a formosura monstruosa tira, pouco a pouco, a crença humanista ante um turbilhão de situações absurdas e inconcebíveis. Mas há de se ressaltar de que muitos monstros são alimentados unicamente por ações individuais, próprias de cada um consigo mesmo.
A tenebrosa inquietude que se apodera da escura e desastrosa tentativa de conciliar um descanso para a mente frente ao cansaço do corpo e das ideias irrequietas, se transforma em navegação hostil e submersa. Nesta guerra não se escutam estampidos de bombas, tampouco troar de canhões, mas apenas lamentos e gemidos de um pranto abafado, contido e comprido.
Os descuidos, a insensatez da expectativa trazem dor ao coração e tingem o leito da alma com a obscura frustração. A bondade incompreendida se transforma em simples servidão. O temível fantasma da intransigência, enrodilha-se em túnicas de farsas, de faltas, de falhas e marcha em travessia de farpas.
O lume da vida se esvai, qual chama ébria em destemperada ventania. Lançadas ao chão, as convicções germinam. Enraizadas, brotam talos de esperanças que, a mercê de circunstâncias e da negligência, se convertem em matéria orgânica perdida no mundo. Sua marca sobre a terra durará apenas ao jugo do tempo, e que logo a converterá em pó: o sal da terra.
E sendo o sal, insípido, para nada mais prestará, senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens. Eis aí, um dos muitos e valorosos ensinamentos do meigo Rabi da Galileia.
É curioso como a doutrina do Cristo confronta todos esses monstros, que são autocriados pela mente humana. Mesmo em momentos em que se deixa transbordar toda a dor da alma, sua filosofia de amor e esperança é a porta para a iluminação.
A parábola do sal da terra é pródiga em decretar: "vós sois o sal da terra". O sal, por si, é um composto derivado de elementos químicos. Assim como o ser humano, que deriva das mais diversas origens. A função do sal, dentre as mais diversas, é se fusão e reação: de cristais de sódio aos cloretos iodados. Tal como o ser humano: se unir e se transformar.
Utópicas são as perseguições existenciais de perfeição e de felicidade. E quando os monstros naturais da psique humana ressurgem, os ensinos do Cristo é arma essencial: espalhados pelo mundo para dar gosto à vida, tal qual o sal deve realçar o sabor dos alimentos: na medida certa, sem imposição, sem violência, com amor e caridade. E ainda como agente preservador: impedindo a putrefação e decomposição do mundo, assim como o sal que conserva carnes.
Quem sabe seja por isso que Deus permite que o corpo humano produza lágrimas salgadas. Para que nos lembremos Dele e das palavras de Jesus, ante as dores e as adversidades da vida.
Lindo texto!
ResponderExcluirObrigado pelo prestígio Paula Simões!
ExcluirSempre muito especial!
Bjs! s2