domingo, 22 de maio de 2016

Críticas e Resenhas #009 - A Brisa Fascinante de O Apanhador no Campo de Centeio


"O homem imaturo é aquele que quer morrer gloriosamente por uma causa. O homem maduro é aquele que contenta-se em viver humildemente por ela".

Falar de um clássico sempre é tarefa árdua e complexa. Porém, sempre que estamos diante de uma obra prima cultural, a grande questão levantada geralmente é: qual o impacto disso em nossas vidas?

De certa forma, o autor desta história, que se tornou um clássico da literatura desde seu lançamento,
em 1951, tomou para si o desejo de seu personagem.

Em 1953, Jerome David Salinger abdicou às glórias literárias e à vida agitada em Nova York, para se
recolher a uma casa, no topo de uma isolada montanha em Cornish, no estado americano de New Hampshire. Por algum tempo continuou escrevendo, mas, desde o início dos anos 60, nem isso fez mais. Isolou-se e fez o exercício tão falado por Garcia Márquez em suas obras: mergulhou no eterno escrito da solidão. É claro que, diante disso, a lenda de J.D. Salinger só fez crescer. O autor morreu, ainda recluso, em 27 de janeiro de 2010.



J.D. Salinger posa em Novembro de 1952, para divulgação de seu livro 'O Apanhador no Campo de Centeio'
Reprodução/Getty Images



Seu best-seller vendeu 15 milhões de exemplares em apenas dois anos após o lançamento, e fez de
Salinger uma estrela, por pintar a adolescência como um retrato nítido, cruel, enternecedor,
desconcertante, poético — tudo ao mesmo tempo e de uma vez só. Estima-se que a obra tenha sido
traduzida para quase todas as principais línguas do mundo, onde cerca de 250 mil cópias sejam vendidas todo ano, com um total de vendas que ultrapassa 65 milhões de exemplares.




Título: O Apanhador no Campo de Centeio (The Catcher in the Rye)

Autora: J.D. Salinger
Tradutor: Álvaro Alencar, Antônio Rocha, Jorio Dauster
Editora: Editora do Autor
ISBN: 9788587575012 
Páginas: 208 
Edição: 18 
Tipo de capa: Brochura 
Ano: 2012 
Assunto: Literatura Estrangeira / Romance de Iniciação 
Idioma: Português 
Dimensões:  15 cm x 21 cm
Peso: 0,600 Kg



Se engana quem, pela capa, julga que a história é de um trabalhador rural. Só por aí já temos uma ideia da genialidade de Salinger. A forma como ele é escrito, apresenta a preocupação em salvar o detalhe da ausência de dispositivos móveis na narrativa. Dez anos antes, em uma carta a um amigo, o autor disse que ele estava escrevendo uma história sobre "um cara na escola durante as férias de Natal."

E é bem isso mesmo! O livro conta um fim de semana na vida de Holden Caulfield. O garoto tem 16 anos e é membro de uma família remediada financeiramente de Nova York. Após ser reprovado em três, das quatro matérias que cursava em seu colégio interno, Holden é expulso da escola. Então, ele decide retornar mais cedo para casa; Todavia, resolve adiar o confronto com a família e começa a "bater perna" pela cidade. E nesse vagar, Holden reflete sua vida, sua visão de mundo e seu futuro. Antes de enfrentar os pais, o garoto procura um professor, uma antiga namorada e sua irmãzinha, enquanto tenta explicar e entender a confusão que se passa em sua cabeça.


Trecho - O Apanhador no Campo de Centeio


Eu poderia dizer que, num todo, o livro é o que na gíria se diria "uma grande brisa" ou "uma bela
viajada", mas estou seguro que a expressão não se adequaria à grandeza desta obra. Particularmente, ao terminar a leitura, a sensação era de que a vida não fazia sentido algum, tamanha à profundidade da curta, mas não menos relevante narrativa. Na verdade, ainda existem muitas coisas que eu estou
absorvendo, mesmo passado mês. Trata-se de uma reflexão continua sobre a busca de identidade. Algo comum em todos nós.

Desde o início, Salinger destina-se a embutir uma peculiar modernidade à sua narrativa. O que ele não poderia saber é que, bem no século XXI, este romance de aprendizagem ficaria tão fresco e atual, como quando publicado em 1951. Portanto, a forma como ele é escrito é em primeira pessoa e bem coloquial, cheia de gírias e simplicidade, de forma que a leitura flui de uma maneira rápida e gostosa.

Mas o livro não fica só nisso. O glorioso anti-herói Holden Caulfield, é um dos personagens mais
queridos da literatura mundial. Observador, julga tudo a sua volta de uma forma original, ácido e às
vezes humana e terna. Isso fez com que o jovem Caulfield se tornasse um ídolo de uma legião de jovens rebeldes da era pré-rock'n'roll.

Conta-se, inclusive, que o jovem Robert Allen Zimmerman, futuro Bob Dylan, fugiu de casa meia dúzia de vezes inspirado nele. Como disse um dos críticos conservadores que tentaram destruir "O apanhador no campo de centeio" logo na época de seu lançamento: "um livro assim pode multiplicar esse tipo (de comportamento)". O livro chegou a ser censurado em muitos lugares do mundo,
inclusive em vários institutos educacionais dos Estados Unidos.

Holden não chega a ser exatamente um delinquente juvenil ou um retardado mental, mas passa muito
próximo disso.

Com algumas poucas informações autobiográficas (sobre problemas de pele, seu boné vermelho de caçador, seu incessante cigarro e outras banalidades cruciais para a história), o autor expõe em Holden o desprezo à quase todo mundo. Seria, então, o alter-ego do escritor? Quem Sabe?

Salinger escreveu sobre adolescentes, sua rebeldia, sua luta para encontrar um lugar no mundo, o
paradoxo medo de crescer e do enorme desejo em fazê-lo. Ainda nos paradoxos, a grande crise existencial de Holden Caulfield se dá na sua divagação sobre o impossível e o inevitável: envelhecer.

Ele projeta um campo de centeio, onde gostaria de ficar à beira do precipício deste campo, como um apanhador de almas puras, para vigiar que as crianças no caiam por ele (ou como ele). Para evitar que elas cresçam. Daí, o rebelde Caulfield critica adultos, falsos, hipócritas ou simplesmente os imbecis, enquanto que aprecia as crianças, os espontâneos, inocentes, generosos.





Observador, sensível, exagerado, sarcástico e curioso ("onde eles levam os patos no inverno, quando os laguinhos do Central Park congelam?"). Nos poucos dias que dura a aventura, este cara de 16 anos que gostaria aparentar mais idade para ser servido nos bares sem perguntas, e para ser notado pelas mulheres, torra seus trocados em busca de um pouco de experiências de vida. Pensa em sexo, fica bêbado, fuma muito, anda de taxi, contrata os serviços de uma prostituta, rechaça divertidamente a educação acadêmica, sobre o autoritarismo dos mais velhos, se deprime e ainda abusa das frases de efeito. 

O texto é extremamente inteligente, original, tem humor, é cheia de vida e sensibilidade, tem um
ritmo perfeito, nunca cai como piegas ou como grosseiro. Por isso não estranho que, a sensibilidade com que o autor nos apresenta o universo próprio de Holden e sua capacidade extraordinária de reflexão, fizeram do livro uma obra prima do século XX, obra esta que transformou a maneira da sociedade enxergar a fase mais turbulenta da vida: a adolescência.

Assim como Holden Caulfield, milhões de pessoas vão se sentir menos sós: 'O Apanhador no Campo de Centeio' exerce um poder extraordinário sobre o leitor. Do tênue fracasso do rebelde Holden, surge uma vitória imperiosa: a de deixar o legado de um dos livros mais maravilhosos, que se pode ler em qualquer idade.





  • Recomendando, Nota:




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    http://www.submarino.com.br/produto/176922/livro-o-apanhador-no-campo-de-centeio




    A Lenda do Campo de Centeio

    O curioso na mística da obra de J.D. Salinger é a forma como ela influenciou e continua a influenciar diversas gerações.

    Só para se ter uma ideia a obra é citada em alguns casos curiosos, como a morte de John Lennon. Segundo testemunho do próprio Mark David Chapman, assassino do Ex-Beatles, ele estava lendo O Apanhador no Campo de Centeio minutos antes de tentar o suicídio.

    Outro fato curioso é que o atirador que tentou matar Ronald Reagan, em 1981, afirmou que também teria tirado do mesmo livro a inspiração para matar o presidente.

    No filme Teoria da Conspiração, Mel Gibson faz o papel de um motorista de taxi psicótico que acha que todos estão contra ele, e que possui uma compulsão, comprar diariamente um volume de O Apanhador no Campo de Centeio.

    E não para só nisso...

    Vou deixar um link de um Blog, que costumo visitar, o do Litera Tortura. Tem mais curiosidades pra vocês:

    http://literatortura.com/2015/07/dez-curiosidades-sobre-o-apanhador-no-campo-de-centeio-e-seu-autor/

    Forte Abraço a todos, neste 22 de Maio - Dia do Abraço!
    E bora ler, meu povo! ;)
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    sábado, 7 de maio de 2016

    Nossas Autorias #008 - Não Se Cegue na Culpa, Ame de Coração!

     
     
     
    Por Diego Oliveira
     
     
    Viver na miséria não é nada fácil. Isso, todo mundo sabe. Mas imagine como é difícil viver nas sombras... A miséria da qual me refiro, não é só a falta de dinheiro, ou de recursos, ou de poder, tampouco o de desfrutar dos prazeres da boa vida. Durante o tempo que vivi no Rio de Janeiro, pensei que já tinha provado um bom bocado de sofrimento nessa minha jornada. Mas nada se compara à história que tive a oportunidade de conhecer.

    Em um desses dias quentes, onde tudo nos convida a curtir um pouco da vida, naquela que é referida como a mais maravilhosa das cidades do mundo, lá estava eu: indo à batalha, em busca do pão de cada dia. Era o fito de me deslocar em trem lotado, rumo à Central do Brasil. E eu, que saí da capital paulista, para morar com uma tia e tentar a sorte de uma vida nova no Rio, não me conformava com uma desilusão amorosa que me levara a pedir "exílio" e recomeçar tudo do zero. Mas isso era mais outro devaneio meu...
     
    Mas foi nesse dia que me deparei com algo, no mínimo, inusitado. Em meio aos solavancos da composição férrea, imerso em meus pensamentos, sonhos e desafios, ouvi a voz barítona e ressonante, mesclada com estalar metálicos sequentes. Dentre aquela multidão, que assim como eu, marchava para mais um dia de trabalho, vi um vendedor de balas. Poderia ser mais um dos muitos ambulantes, que ganham a vida negociando bugigangas, de vagão em vagão... De estação em estação... Mas, neste caso, para a minha total surpresa, o nobre mascate dos tempos modernos e urbanos portava, além de sua mochila e de sua caixa de balas, uma bengala. Eu estava atônito: o camelô era cego!

    Ele vendia seus doces e, a cada abordagem contava com a compaixão do público, seus propensos clientes, para não ser ludibriado. Por mais desonesto que possa ser um povo, na minha ingênua inocência paulistana, jamais poderia pensar que alguém poderia enganar um cego. E realmente: o cego ia vendendo e ia faturando, sem maiores problemas, principalmente na hora de passar o troco àqueles que compravam seus produtos.
     
    Pressupondo mil coisas, nenhuma delas legais, achei muito estranha a habilidade daquele vendedor e sua curiosa confiança em negociar suas mercadorias. Aquilo, só poderia ser uma mega sacada de uma mente inescrupulosa, que se passando por deficiente visual, enganava aquele povo simples e solidário, que se condoía com a triste e bizarra cena de superação do ser humano, e enchia o bolso do camelô de dinheiro.

    Meu pseudo faro jornalístico, recém-saído da universidade, e a imensa curiosidade que cultivo desde menino, resultaram no inevitável: segui, observei e acompanhei nosso intrépido mercador, que tinha as trevas por companhia, saltando de trem em trem, na capital fluminense.
     
    Até hoje não consigo concluir se aqueles trinta minutos que perdi em minha sórdida investigação foram os mais bem gastos de toda a minha vida ou os mais desperdiçados. E na realidade, nem sei se foi perda de tempo. Mas realmente consegui definir que o cego era cego mesmo.
     
    Me senti péssimo por ter duvidado da índole do rapaz, que frente às adversidades obscuras, das mais severas que podem existir, angariava digna e honestamente os seus trocados, enquanto muitos... Não compensa nem comentar.

    Trabalhei impaciente na minha mesa aquele dia. As cenas não me saíam da mente. Estava louco de vontade de chegar logo em casa, e compartilhar daquela história com a minha tia. Era, para mim, mais que exótico e altivo tudo aquilo: um cego, ganhando a vida daquela forma.
    Mas a vida nos surpreende de vários modos...

    Foi a minha tia, que tinha meio século a mais de experiência que eu, quem estava a me pôr a par dos fatos e de dar a notícia completa para mim. E não eu:
    — Nenhum sofrimento desta vida, meu querido, pode ser classificável. Talvez, nem devamos chamar de sofrimento, pois ver o óbvio é a verdade mais difícil de se enxergar. Mas saiba que nada acontece por acaso. Para tudo há de se ter uma explicação! Acrescentou, ainda:  — Vou lhe contar o que aconteceu com Jorge, o camelô lá do Grotão.

    E continuou:

    — Em 1981, eu conheci uma amiga, chamada Lourdes, na Escola de Base onde eu trabalhava na época. Éramos merendeiras lá. Ela tinha se mudado há pouco tempo aqui para o Rio. Aos poucos eu fui sabendo da história dela. Era uma mulher nova, mais muito simples, muito boa, sabe?

    Afirmei, maneando a cabeça positivamente.

    — Ela tinha saído de Minas (Gerais), depois que o marido a tinha largado. Me disse que a separação tinha acontecido depois que ela e marido se desentenderam. Tinham sido arrasados por uma enchente que acabou lá com a cidade deles. E Lourdes tinha adotado uma criança sobrevivente dessa tragédia. Era Jorge. Tinha por volta de 3 anos na época, se me lembro bem do que ela me contou.

    — Nossa! Reagi, espantado.

    E minha tia continuava:

    — E Lourdes, resolveu vir com a criança para cá. Ficou na Igreja, com a criança. Logo, arranjaram um trabalho para ela lá na escola. As pessoas tinham muita dó dela, pela história que ela contava. Isso, sem falar que Lourdes deixou o marido ir, para seguir ela e a criança adotada. Ela não gostava de falar, mas Jorge enxergava muito pouco...

    Minha tia, foi me contando o desenrolar daquela amizade entre Lourdes e ela. E eu, ficava cada vez mais absorto e espantado pela narrativa. Tinha muita verdade naquilo tudo.

    — Ela tinha feito de um tudo por aquela criança. Cuidou de tentar tratamentos, levava em médicos, benzedeiros, bruxos de araque. Mas nada dava certo. E conforme o tempo ia passando, a criança ia crescendo e a visão dela, encurtando.

    Jorge, era um menino cego e adotado. Aquela humilde mãe ia se desvelando pelo filho e tentando fazer com que ele levasse a mais normal das vidas possíveis. Lourdes era seus olhos. Lhe contava histórias, aprendeu a escrita o método Braille, para ajudar na educação de Jorge. Lhe ensinara a ter fé, a ler o mundo pelo viés da honestidade e da humildade. Educou o filho do coração, para ser uma pessoa de bem, útil e independente.

    Mas foi na adolescência que o filho da merendeira começou a enveredar pelos caminhos tortuosos da vida.

    Formá-lo dentro dos princípios bíblicos e todas as coisas lhe foram acrescentadas pela fé de Lourdes, de nada adiantou para o jovem Jorge. Por mais que a amizade entre mãe e filho, e as condições impostas pela vida de ambos, acabaram por resultar em Amor, a harmonia na vida deles dependeu muito das decisões que foram tomadas durante suas jornadas.

    A vida de uma pessoa com deficiência física é algo bem diferente daquilo que temos como referência. É difícil imaginar ter de tomar decisões, sem a presença das imagens. Ou de alguém para lhe auxiliar. E para Jorge, viver de forma diferente do que viviam seus muitos amigos, era algo inaceitável para ele.

    — Cansei de receber a Lourdes aflita aqui em casa. Contava minha tia. — O Jorge, às vezes, ficava dois, três dias fora de casa. E ela tinha medo, porque não conhecia direito as companhias do filho. E era perigoso mesmo: um cego ainda, a quem todo mundo poderia enganar. 

    E retornou, concluindo:

    — É normal para um jovem sair, se distrair, se divertir. Mas isso era um dos muitos excessos que o Jorge fazia. A gente passava de noite, encontrava ele em botecos. Ele e um monte de gente; depois, descobrimos que ele tinha parado de estudar, tinha saído do trabalho. Devia ter se enfiado com gente ruim e fazer de toda a sorte de maldades por aí.

    Era inacreditável: minha tia ia contando a transformação que a vida de Jorge sofria com o passar dos anos.

    Por mais esforços, carinho, cuidado e amor que Lourdes dava, Jorge crescia na degeneração e na delinquência. O menino doce e prestativo da infância dura, tinha se tornado em um ser inescrupuloso, egoísta e malandro. Usava de sua deficiência para tirar vantagens. Aquilo para que Lourdes tanto lutara com tanto esmero, fazer com que o filho se tornasse um jovem normal, se realizara. Jorge se tornou "um jovem normal".

    Mas os desvarios e compulsões de Jorge, imerso na vida fácil e de prazeres viciosos, fragilizaram o corpo frágil do jovem. Além da cegueira, as drogas e o álcool enfraqueceram-no o coração. Foi Lourdes que, com muito custo, o convencera procurar um hospital, para tratar a falha cardíaca. Tinha um problema congênito, e não sabia. Um tratamento até foi iniciado, mas Jorge não queria a uma vida limitada. E não aceitava de forma alguma sua condição, piorada pelos excessos que cometia, mas que não admitia.

    Até que um grave desentendimento entre os dois, certa feita, fez com que aquele jovem cego embarcasse em um carro, mesmo com os rogos de protesto de sua mãe, que sentia em si, o peso do fracasso de sua criação:

    — Meu filho, por Cristo renato, fique em casa! Saia desta vida. Você não está bem, "tá doente". Pelo amor de Deus, tenha pena de sua mãe. Implorava Lourdes, meio as lágrimas condoídas e longas.

    — Para com isso, velha! Esbravejou, da calçada, para sua mãe no portão. — E nem vêm com essa de "meu filho", “tá” legal? — Fica você, tuas rezas, tuas chatices de merda, porque eu não "tô" afim, ok.

    Do carro, os amigos assistiam aos risos, o torpe espetáculo como uma cena comum. Aquela, por vezes, era uma cena comum também em suas respectivas vidas.

    — E não me espera, ouviu? Decretava Jorge, para o desespero de Lourdes.


    Os vizinhos, inclusive minha tia, conforme me contava, amparavam Lourdes em sua aflição. Sua tragédia pessoal era penosa demais para seus cabelos brancos e sua expressão sofrida, resultado de anos duros de trabalho e de sucessivos infortúnios. Os conselhos, dos mais variados possíveis, davam orientações desde a mudança de ares, até a internação forçada de Jorge. Ou se tomava uma atitude, ou o pior poderia acontecer.

    E não tardou para que esta triste e inevitável previsão se fizesse presente. Na noite do dia consagrado às Mães, após sucessivas madrugadas em claro, Lourdes foi surpreendida com uma triste visita. Era a polícia:

    — A senhora é Lourdes dos Anjos?

    Trêmula e abalada, a mãe retornou:

    — O que aconteceu com meu filho, policial?

    — O Jorge foi detido e está na delegacia, suspeito de um roubo e tráfico de entorpecentes.

    O choque foi duro demais para Lourdes. Sua desolação se fez presente naquele instante, unido a um estampido que só ela ouviu, dentro de sua cabeça. Desmaiou ali mesmo. Era um aneurisma que explodia na fronte.

    Horas depois, o mesmo soldado que se encarregara de socorrer Lourdes ao hospital, retornou ao lado de um médico para a delegacia. Foi procurar Jorge, para lhe transmitir uma breve notícia:

    — Jorge, você vai ser levado conosco para o hospital. Sua mãe está lá, teve um mal súbito.

    — Eu não vou. Não tenho nada a ver com isso. Dizia Jorge, indiferente com o que ouvia.

    Indignado, o policial retornou:

    — Como não vai? Ela morreu! Inferiu o oficial.

    Dando os ombros, visivelmente transtornado, mas rindo, Jorge reiterou:


    — Agora é que não vou mesmo. De que adianta? Ela já "tá" morta mesmo...

    E foi aí que o médico interveio:

    — Mas você tem que ir sim!

    E Jorge, com olhos e expressão inflamados de ódio, questionou, balbuciando lenta e brutamente cada palavra:

    — E por qual razão eu sou obrigado a ter de ir?

    E o médico, sendo o mais direto possível, respondeu:

    — Porque ela doou os olhos e o coração para você!

    O impacto me fez gelar a alma, e levou lagrimas aos meus olhos, que teimei em segurar. Era tudo muito complicado de assimilar, principalmente pelas coisas que deviam ter acontecido, mas que minha tia teria suprimido para mim, ou até mesmo nem sabia. Na minha concepção, a sabedoria da vida foi posta nas vidas desta mãe e deste filho de uma forma clara. Mesmo quando não sabemos o que falar, a lógica encheu minha boca, que questionou à minha tia:

    — Mas e aí? A senhora sabe que fim o Jorge levou?

    — Pela história que você me contou hoje, e pelas características que me você me deu, o Jorge sobreviveu. Continua cego, morando no Grotão, mas pelo menos agora, segue a vida e as dificuldades de ter de trabalhar pelo seu sustento.

    Vendo meu espanto, da mais doce das formas possíveis que uma tia pode dizer, ainda me disse:

    — Por isso, meu filho, as percepções e pré-julgamentos, até por uma questão de ignorância da verdade, ou limitação de nossos pontos de vistas nos levam, na maioria dos erros. De tudo, não nos cabe nos culpar por nada. Enfim, só devemos amar, e de coração!

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    domingo, 1 de maio de 2016

    Dicas de Leitura #008 - Os Romances Mediúnicos de Marcelo Cezar


    Desde que o mundo é mundo, discutimos e tentamos descobrir o que existe além da morte. Muito do que se conhece sobre a filosofia espírita e espiritualista, em destaque, no Brasil, se dá através dos Romances Mediúnicos, que cumprem um papel de porta de entrada para o conhecimento da Doutrina decodificada por Allan Kardec na França do século XIX.

    Nossas dicas de leitura desta semana chegam pra destacar o potencial de sucesso da fórmula que combina romantismo e espiritualidade na literatura e na cultura brasileira de maneira geral.

    O paulistano de 49 anos e, em especial, seu mentor, o espírito Marco Aurélio, criaram uma parceria de trabalho no desenvolvimento do ser humano. Já são 15 títulos lançados desde 2000, que somam mais de 1,5 milhões de exemplares vendidos, onde o leitor é convidado a refletir sobre temas relacionados a impulsividade, justiça, estima, ódio, ciúmes e perdão. Sentimentos humanos e espirituais traduzidos em belos romances que descortinam valores e experiências edificantes para nossas vidas.

    Marcelo Cezar e um de seus títulos de maior sucesso - Divulgação 

    Seu primeiro romance, ditado pelo espírito Marco Aurélio ao longo de mais de dez anos, durante as sessões de psicografia, foi publicado pela primeira vez no fim da década de 1990. Uma década depois, ao mudar de residência, Marcelo encontrou outras anotações que faziam parte do original. Sob orientação de seu mentor, juntou os escritos e relançou A vida sempre vence em uma versão revista e ampliada.




    Título: A Vida Sempre Vence
     
    Autor: Marcelo Cezar
    Editora: Vida & Consciência
    ISBN: 9788577221585
    Ano: 2000 | 2011
    Edição: 2
    Número de páginas: 328
    Acabamento: Brochura
    Dimensões: 23cm x 16cm x 1,71cm
    Formato:  Médio
    Assunto: Literatura Espiritualista / Romances
    Peso: 0,490 Kg
    Idioma: Português






    Lançado em 2000 e reeditado em 2011, este romance é passado nos Estados Unidos e, no desenrolar da história, vai para o Brasil (na virada do século XIX para o XX). Uma tragédia muda o rumo do destino de uma família. O que poderia explicar a atitude tão surpreendente e radical de uma mãe?

    A trama central se dá aos protagonistas Sam, Mark Adolph, Emily e Anna.

    A pacata e fictícia cidade de Little Flower é o lar do jovem casal Sam e Brenda. Apesar das aflições da recente união, certo dia, Sam se depara com a bizarra cena de seus dois filhos gêmeos, mortos por estrangulamento. Sam entra em depressão e Brenda acaba cometendo o suicídio, depois de um longo período de obsessão espiritual.

    Anna é irmã adotiva de Brenda e empregada do casal. Com a ajuda dela, do xerife Mark e dos amigos Adolph, Emily e do Dr. Lawrence, Sam vai se recuperando e aceitando a tragédia que fora cometido. Na parte espiritual, encontramos a ajuda de Agnes e Júlia, que inspiram e orientam os personagens principais.

    Adolph teve um grande amor que o abandonou e nunca mais voltou a se interessar por ninguém. Já Mark e Emily acabam formando um casal. Anna é apaixonada por seu cunhado, agora viúvo Sam, mas, a princípio, opta por esconder seu amor, justamente por conta de questões morais da época.

    Cansados e desiludidos com a vida na América do Norte, que vinha passando por uma grave Guerra Civil, eles decidem partir para o Brasil. O destino de todos estava selado em uma linda missão em terras brasileiras, auxiliando e sendo auxiliados pela cultura dos negros escravos.

    Ao final da narrativa, com uma reviravolta surpreendente, temos as respostas dos motivos que levaram a esta forte ligação das personagens. Ficamos com a compreensão de como o livre-arbítrio influencia nosso destino.

    A história é tão boa que prende a atenção sorrateiramente. A nova edição, de 2011, revisou a linguagem a fim de facilitar ainda mais o entendimento da mensagem que Cezar e Marco Aurélio se fitam a passar. Encontramos pinceladas doutrinárias nos diálogos entre os personagens, numa época em que o espiritismo estava dando seus primeiros passos.




  • Recomendando, Nota:



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    Há livros que nos conduzem a uma profunda reflexão e nos ajuda a esclarecer a consciência. Este segundo livro, destaco de forma muito especial, pois me ajudou particularmente. Uma das muitas leituras edificantes que tive a oportunidade de vivenciar.

    É comum olhar para os outros, apontar falhas, defeitos, fraquezas e fazer julgamentos. Mas, de forma geral, nos esquecemos que enquanto um dedo aponta, os outros dedos estão voltados para nós mesmos, e sempre que julgamos, somos julgados na mesma medida e peso.





    Título: Nada É Como Parece
     
    Autor: Marcelo Cezar
    Editora: Vida & Consciência
    ISBN: 8585872799 / 9788585872793
    Ano: 2002
    Edição: 1
    Número de páginas: 309
    Acabamento: Brochura
    Dimensões: 20,7cm x 14cm x 1,62cm
    Formato:  Médio
    Assunto: Literatura Espiritualista / Romances
    Peso: 0,375 Kg
    Idioma: Português






    No romance, três amigas de infância (Eulália, Chiquinha e Cora), conhecidas por toda alta sociedade
    paulista dos idos de 1900, se separam misteriosamente. Vinte e cinco anos depois o passado volta à tona em meio a desentendimentos e conflitos, mostrando com clareza que, em sociedade, nem sempre as pessoas são como parecem.

    A história nos trás o ensinamento que todos nós temos o direito de pensar e idealizar as pessoas como quisermos, afinal possuímos a faculdade do livre pensamento. Isso nos permite criar situações, como também de enxergar os outros de acordo com nosso senso de realidade.

    Mas esta especificidade da cognição humana, muitas vezes, mais atrapalha que ajuda, E isso se dá, como o próprio livro nos passa, simplesmente porque nos cegamos em preconceitos. Há ainda uma forte referência ao fato da resignação e ao fato de que temos de entender, olhar e aceitar as pessoas como elas são, e não como gostaríamos que elas fossem.

    Outra grande mensagem desta magnifica história, é de que por mais que haja desajustes obscuros da personalidade humana, existe muita bondade e generosidade espalhadas pelo mundo, basta
    ter olhos para ver!

    A vida nos envia sinais para melhorarmos sempre, por pior que possa parecer a situação, ou sofrimento, como nos habituamos a classificar temerariamente. Aprender a viver melhor é tarefa intransferível, porque ninguém é fraco, apenas não sabe usar a própria força interior para trilhar um caminho mais harmonioso durante a jornada da vida.



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    Este título, que compartilho com vocês, foi a primeira leitura que fiz da dupla Cezar/Marco Aurélio. Já tinha lido vários livros da temática espiritual, mas confesso que este livro foi um tapa na cara da minha pessoa. Muitos ensinamentos e muitas falhas pessoais, cujo vi refletidas nesta história:




    Título: Nunca Estamos Sós
     
    Autor: Marcelo Cezar
    Editora: Vida & Consciência
    ISBN: 9788585872854
    Ano: 2003
    Edição: 1
    Número de páginas: 355
    Acabamento: Brochura
    Dimensões: 20,7cm x 14cm x 1,86cm
    Formato:  Médio
    Assunto: Literatura Espiritualista / Romances
    Peso: 0,375 Kg
    Idioma: Português








    A história gira em torno do jovem Heitor. Em sua última encarnação, viveu na cidade do Rio e morreu na tragédia do navio Bateau Mouche. Sua trajetória mostra como a sabedoria da vida trama nosso reencontro com a verdade implícita na sua essência.

    Vindo do interior de Minas Gerais, ambicionava muito ser alguém na vida, mas não tinha boa índole. De forma duvidosa, Heitor logo consegue um emprego em Belo Horizonte. Além de ser muito invejoso e de ter de conviver com amigos que evoluíam muito mais rápido que si, sentia muita raiva e dor por causa de Clarice, sua namorada da juventude no interior, a quem tinha enganado. Era um homem muito negativo, onde sua energia extremamente densa, fomentava desgraças.

    Para ele, o mundo é um caos: as pessoas não prestam, tudo está perdido. É o tipo da pessoa insegura que vê, nos outros, o que não consegue fazer por si, demonstrando, no final, que pessoas na mesma linha de pensamento que ele não podem, em sua maioria, atrair coisas boas.

    Este, é um dos pontos centrais do livro, que retrata uma questão atemporal da psique humana da incerteza. O medo do fracasso, atravanca no progresso do desenvolvimento social de cada indivíduo.

    O tempo passa, o jovem é transferido para o Rio de Janeiro, como havia sempre sonhado. Heitor, porém, se esquece de suas raízes, de sua família e de sua namorada. Um belo dia, é demitido da empresa, mas, indignado, não assina a demissão. Depois de mais de quinze anos, Heitor falece numa comemoração de fim de ano. Apesar disso, a empresa paga todos os seus direitos. Agora, desencarnado, Heitor conhece suas últimas encarnações e começa a compreender que perdera muitas oportunidades.

    Além de abordar, de forma pouco mais ampla, a questão de reencarnamos mergulhados no esquecimento do passado, a história frisa o fato, que para o autor e o mentor espiritual, denota a missão de que cada ser na Terra têm em desenvolver suas respectivas potencialidades e fortalecer a depuração das fraquezas morais.

    O fascínio das coisas fúteis que cegam os nossos anseios mais profundos, é o vício moral retratado e combatido nas palavras dos autores. Uma tempestade de eventos se dá, aludindo à sensação de abandonos. Mas a sabedoria da vida trama, em silêncio, o reencontro de Heitor com sua verdade interior.

    Neste dia, no alívio do final de todo este drama, a compreensão amadurecida nos revela que, diante de qualquer situação, realmente, "Nunca Estamos Sós", e que diante de qualquer circunstâncias, existem livres escolhas, onde só nos cabe escolher qual caminho seguir. Lembrem-se, estamos na terra em busca de evolução!



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    Galera, estas são as dicas desta semana!

    Tenham fé!

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