sábado, 5 de março de 2016

Críticas e Resenhas #007 - Markus Zusak e sua Ladra de Livros


Livros oxigenados nos dão a sensação do frescor de ideias novas. São capazes de impressionar os
leitores mais atentos. Mas, a obra prima do jovem escritor australiano Markus Zusak pode ser avaliada como um livro novo, mas carregado de emotividade. E é por isso que o título fez enorme sucesso no Brasil; Somos emotivos e altruísta, é da nossa personalidade. Sabe aquela sensação que nos dá quando assistimos na TV o Chaves, e vemos o Seu Madruga engolindo a seco os lamentos de fome do órfão do barril?

Pois é: prepare o lenço de papel, pois, pelas próprias palavras do autor, o livro é 15% realidade e 85%
ficção. Vale lembrar que Zusak cresceu ouvindo histórias a respeito da Alemanha Nazista, sobre o
bombardeio de Munique e sobre judeus marchando pela pequena cidade alemã de sua mãe. Ele sempre soube que essa era uma história que ele queria contar.



Título: A Menina que Roubava Livros

Autor: Markus Zusak 
Editora: Intrínseca
Tradutora: Vera Ribeiro
ISBN: 9788598078175 
Páginas: 494 
Tipo de capa: Brochura 
Ano: 2007 / Edição: 1
Assunto: Literatura Estrangeira / Romances 
Idioma: Português 
Dimensões:  23cm x 16cm x 2,5cm
Peso: 0,660 Kg


A primeira particularidade deste romance é o seu narrador, aliás, sua narradora: A Morte. A narração expressa uma sensibilidade que não poderia ser humana. Apesar da afirmação “Eis um pequeno fato, você vai morrer”, ela (A Morte), nos conta um pouco de suas atividades, como ceifadora de almas, e já entra na divagação da trajetória da pequena ladra de livros. Tudo isso, com uma simplicidade e suavidade capaz de detalhar, de forma bem peculiar, os mais diversos sentimentos humanos, tanto os bons quanto os ruins.

Ela é a primeira "pessoa" a contar a história de Liesel Meminger, uma menina alemã que descobriu, durante a Segunda Guerra Mundial, o prazer da leitura e os horrores da guerra. Você pode estar pensando: "Ah, não!  Outro romance sobre o Holocausto...".  Em nível literário, pelo menos, é esta a temática. Todavia, se trata de uma perspectiva única. Como diz o próprio livro: "Quando a morte conta uma história, você deve parar para ler."

Ao contrário de títulos como "O Menino do Pijama Listrado", "A Menina Que Roubava Livros (The Book Thief)" nos diz os horrores daqueles que viveram no regime Nazista como cidadãos comuns, tentando, na medida do possível, continuar suas vidas e tentando afastar alguns acontecimentos dramáticos se desenrolava. É muito parecido com o enredo que se deu no filme italiano "A Vida é Bela".

Este é o caso da família que deu acolhimento a Liesel. Isso mesmo: nossa jovem heroína foi "adotada" por uma família. Horas depois de ver seu irmão morrer no colo da mãe, a menina foi largada para sempre aos cuidados do casal Hubermann: Hans e Rosa - um pintor desempregado e músico amador que atua como pai de Liesel; E a "mãe", uma anfitriã perpetuamente irritada rabugenta.

Ao entrar no novo lar, trazia escondido na mala um livro, 'O Manual do Coveiro'. Num momento de distração, o rapaz que enterrara seu irmão o deixara cair o exemplar vulgar na neve. Foi o primeiro de vários livros que Liesel roubaria ao longo dos quatro anos seguintes. O gosto de roubá-los deu à menina uma alcunha e uma ocupação; a sede de conhecimento deu-lhe um propósito. E foram estes livros que nortearam a vida de Liesel naquele tempo, quando a Alemanha sofria as transformações diárias impostas pela guerra, dando trabalho dobrado à Morte, que nos narra a história.

Uma série de personagens cativantes vão preenchendo as páginas deste romance: Rudy Steiner, o rapazinho que idolatra Jesse Owens, com quem Liesel inicia uma amizade (que se torna seu melhor amigo e o namorado que ela nunca teve);  Max Vanderburg, o ex-lutador judeu que permanece escondido no porão; Ilsa, a mulher do prefeito, e assim por diante.

Nesta romance, um tanto inocente e incrivelmente sagaz, encontramos o amor da leitura (e também para a escrita) que o autor sente e transmite através da sua protagonista, a menina que recolhe todos os livros que ele encontra e se torna seus bens mais valiosos. A leitura destes livros tem um efeito positivo sobre ela e outros moradores da Rua Himmel, na pequena e pobre cidade fictícia de Molching, próxima a Munique.

Com uma narrativa simplificada, por vezes acentuado, objetivo e forte (como não poderia ser menor, no caso da morte), às vezes poético, Markus Zusak usa o recursos flash-forward, que ao contrário do flash-back (que nós factos revela decorrido no passado), mostra-nos um futuro que ainda não aconteceu, protegendo-se na vinda conhecimento que o leitor já tenha sobre o contexto do drama vivido pelos judeus na 2ª Guerra.

Este detalhe pode incomodar alguns leitores, estragando a informação como um outro recurso comum: subseções que realiza a cada momento e, em seguida, o narrador escrito em um tipo de letra diferente.  Embora inicialmente se estranhe, o leitor rapidamente se habitua a estas subseções e entende que parte da forma como a história é contada. Alguns desenhos se entrelaçam a história, dando um ar lúdico e necessário a narrativa:




O ritmo da leitura transcorre lento, e refere-se a poucos anos da infância Liesel, polvilhado com anedotas, experiências e descrições da dura realidade vivida pela imposição da época. Por vezes, há uma longa descrição de certos momentos na vida de Liesel. E se você chegar no final, prepare-se, porque "a ladra" vai roubar seu coração.

O livro deu origem a um filme, lançado em 2013/2014, dirigido por Brian Percival e com o roteiro escrito por Michael Petroni. O filme, classificado do médio pela crítica, deixou um pouco a desejar em alguns detalhes do livro que davam um charme especial . Mas, por outro lado, se redimiu em questão de deixar muitos fatos super-realistas, o que o livro procura desconstruir.



Vai te presentear com muita aventura, amor, esperança e coragem, qualidades que eu gostaria de ver em um grande livro. Uma leitura fresco, excitante, necessária, e muito esclarecedora. Leitura indispensável. Tão boa que me deixou com uma sensação de impotência que se apodera de mim até eu conseguir me prender em outra saga novamente. Uma comovente história, sem dúvida, e um excelente livro da primeira à última página.

Há quem prefira a nova edição, que faz referência a capa do filme. Mas fico com a 1ª Edição, pois tem uma capa bem mais poética. #MenosPhotoshop rs...





  • Recomendando, Nota:



  • Onde Comprar ?
    http://www.travessa.com.br/A_MENINA_QUE_ROUBAVA_LIVROS/artigo/aec36e33-38ec-43c8-abb7-114871b2bc9d

    Espero que tenham gostado da resenha!

    E Você? Já leu “A Menina Que Roubava Livros“? Só assistiu o filme?
    Ainda não teve a oportunidade de conhecera história?

    Compartilha com a gente suas impressões aí embaixo.

    Forte abraço e que a leitura seja edificante a você !!
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    Nossas Autorias #007 - Homens de Preto

     
     


    Por Patrick Lopes


    Três homens estavam em um fliperama. Tomavam uísque e discutindo sobre o quão chatas eram suas vidas, claro que um fliperama não era lugar para três homens da meia idade. Mas lá estavam eles, se divertindo com seus copos na mão.

    O mais novo do grupo tinha cabelos pretos, olhos claros, usava um terno preto muito elegante: a combinação perfeita de um homem de sucesso da meia idade. Ao lado do Caçula estava o Ruivo, que apesar de ser mais velho que seu amigo, tinha uma aparência mais jovial: usava uma camisa preta com gravata vermelha, combinando com o cabelo, que era um vermelho tão profundo a ponto de doer os olhos quando se olha de perto. E por último estava o Grisalho, cabelos brancos, rugas da idade, terno preto, porém, não tão elegante quanto seu parceiro. Esse era o mais crítico do grupo, reclamava de tudo e não concordava com ninguém. Ninguém sabia de sua vida social: ele era muito fechado e raramente falava alguma coisa sobre suas particularidades.
     

    — Minha mulher só abre a boca para falar comigo sobre dinheiro e minha desorganização. Disse o Caçula.

    — Por que você não muda de rotina, de mulher, trabalho? Perguntou o Ruivo.


    O Caçula respondeu, bastante convicto:


    — Não adiantaria muita coisa, tudo é igual. Gostaria de viver em uma realidade diferente, onde as pessoas pensem de uma forma diferente sobre a vida;


    Vendo que ganhava atenção, na medida de sua inflexão, continuou:


    — Estou cansado dessa mesmice que aí está! Sinto que estou jogando minha vida fora todo santo dia, quando acordo para vender meu tempo a uma empresa, que não acrescenta nada à sociedade. Só querem faturar em cima de clientes, que não sabem o que querem da vida. Estamos todos perdendo nosso tempo, dentro de um escritório com ar condicionado. Ganhamos hoje, o dinheiro que gastaremos com tratamentos médicos parar as doenças que adquirimos ao longo da nossa carreira profissional.


    Enquanto pensavam no discurso do Caçula, todos do grupo tiraram um profundo suspiro de lamento.


    — Concordo com você — disse o Ruivo, que estava sempre de bom humor com a vida, e quase sempre concordava com o que todos diziam.


    — Não acho que exista outro modo para se viver no nosso mundo, meu caro amigo — disse o Grisalho — Se nos deixarem sem todas essas responsabilidades, ficaríamos estagnados no tempo. Ninguém pode fazer o que bem entender, o ser humano é falho.


    Indignado, o Caçula complementou:
     
    — Sozinhos somos perfeitos. O que nos estraga é a nossa incapacidade de lidar com outras pessoas. Somos muito egoístas, e esse egoísmo é refletido em todas as coisas ruins que existem no mundo. Alguns por pensarem que só a sua religião é certa, outros por pensarem que só a sua orientação sexual é certa.


    — Você é hipócrita e egoísta, meu caro amigo  — inferiu o Grisalho, com a maior calma do mundo.


    — Sim — admitiu o Caçula, no mesmo tom de voz de seu interlocutor — Exatamente como você disse: sou falho, mas sozinho, sou perfeito.


    Depois de algumas horas de conversas e bebidas, os executivos seguiam às suas casas, aflitos, e repercutindo de forma vívida,  tudo que o havia sido dito pelo mais jovem do trio.


    No caminho, o Caçula estava bastante bêbado e começou a perder a cabeça. Acreditando em uma teoria que acabara de inventar em sua cabeça doentia, sobre a vida ser um jogo que só acabava quando ele morrer.

    Motivado o suficiente para definir que sua vida não tinha um propósito, concluiu que não aguentaria viver mais um dia sequer, sobre esta terra de pecados e sofrimento:

    — Eu não aguento mais, quero ir embora daqui, não pertenço a este lugar — bradava a plenos pulmões, enquanto cambaleava por uma movimentada avenida — Esse jogo já me cansou, quero conhecer o outro lado!

    E um sorrateiro sussurro lhe veio a mente, dizendo claramente:

    “Se jogue nos carros, você é egoísta demais para esse mundo, ninguém precisa de você aqui”

    Por alguns segundos ele se sentiu ameaçado, e todos os seus extintos entrarem em ação para a sua defesa. Ele não queria perder a vida. O que o Caçula não sabia, era que a vida já o tinha perdido há muito tempo.

    Seus amigos, familiares e conhecidos nunca saberão se o Caçula estava certo sobre sua teoria. Talvez descubram quando a morte os visitar, do derradeiro instante


    Mas afinal: a vida é um jogo? 



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